Quinta-feira, 28 Março

«Marrowbone» (O Segredo de Marrowbone) por Jorge Pereira

Drama profundo vestido com uma roupagem de terror gótico, onde não faltam mansões “assombradas”, elementos sobrenaturais e o ponto de vista de crianças e jovens atormentados por figuras sinistras, O Segredo de Marrowbone marca a estreia do argumentista Sergio G. Sánchez na realização, ele que escreveu o guião de O Orfanato, filme que viria a lançar a carreira internacional de J.A. Bayona, aqui presente como produtor executivo.

Uma família de cinco pessoas segue para os EUA para fugir do passado. Mal regressam à casa que a matriarca viveu, ficam estabelecidas linhas imaginárias entre a vida que deixam para trás e a que querem assumir no futuro. Eles agora são os Marrowbone. Porém, libertar-se dos tempos idos revela-se uma tarefa complicada, já que as figuras antagónicas das quais fugiram regressam para os atormentar. Assim, o espaço para uma nova vida acaba por se revelar uma nova armadilha, quer física, quer psicológica.

Construído de forma labiríntica e claustrofóbica, quer com ajuda da montagem, quer no encadeamento da narrativa, quer através da própria cenografia dos espaços interiores onde a ação se desenrola, sem nunca esquecer o isolamento geográfico das paisagens exteriores, Marrowbone revela-se um filme de sustos minimamente satisfatório. Um drama que não tem problemas em sujar as mãos, e isto mesmo que o seu final pouco credível e altamente improvável seja uma pedra no sapato para a obra como um todo.

Sánchez revela assim engenho na forma de carburar a tensão e o mistério, sendo sempre acompanhado por um elenco jovem que consegue dar alguma unicidade e criar empatia com o espectador quando os clichés habituais do género começam a acumular-se em verdadeiros atos de reciclagem do cinema de Bayona, onde não faltam velhas fotografias, recortes de jornal, rochedos enigmáticos e espelhos cobertos como armas de terror.

Mas pese embora o realizador revele ser um bom discípulo e um aluno com a lição bem estudada do cinema do seu “mestre”, pouco ou nada de novo ele tem para acrescentar, caindo assim no eterno “déjà vu” de recortes cinematográficos filmados com algum requinte.


Jorge Pereira

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