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«The Clapper» (O Figurante) por Jorge Pereira

The Clapper aborda a vida de um figurante de programas de TV, aqui transformado em celebridade marginal, mas apesar das boas intenções e de alguns momentos razoavelmente conseguidos, o realizador Dito Montiel –  que aqui adapta o livro Eddie Krumble Is the Clapper que escreveu em 2007 – não consegue prender totalmente o nosso interesse, nem enriquecer suficientemente a sua personagem, as que a acompanham, e a história para ir além de uma comédia romântica tão estranha e distante que facilmente será esquecida.

Ed Helms – de A Ressaca – é o nosso figurante. Movendo-se entre programas televisivos, “Eddie” vai ganhando a vida batendo palmas e fazendo questões nesses shows gravados perante “live audience”. Para além do seu ganha pão, que fica em risco quando um talk show descobre a vida que ele leva – sabemos pouquíssimo dele, sendo apenas verdadeiramente notório que o seu melhor amigo, Chris (Tracy Morgan), é alguém que o acompanha em romaria a esses programas, e que tem uma paixoneta pela trabalhadora de uma bomba de gasolina, Judy (Amanda Seyfried), também ela deslocada do mundo.

É óbvio que para além da agenda romântica insossa, The Clapper tenta de certa maneira fazer uma crítica a como os media criam, consomem, e destroem as estrelas cadentes que promovem, figuras anónimas transformadas em gozos instantâneos, “memes vivos” que assinam um verdadeiro pacto com o diabo quando acedem a autopromover-se e entrar nesse mundo dos 15 minutos de fama. Ed TV já tinha mostrado isso, e até Gervais  – na sua sitcom sobre os extras do mundo do entretenimento, The Extras – conseguiu entrar nesse mundo com mais fulgor. Na verdade, Montiel – mais habituado a trabalhar em dramas de ação – parece incapaz de trazer qualquer interesse para o seu Eddie para além do charme e condescendência pela sua estranheza, que o colocam como uma eventual personagem secundária interessante de um filme qualquer, mas nunca um protagonista.

Mais interessante que tudo é o pano de fundo, a Hollywood de 2ª linha onde estúdios de tv baratos, talk-shows a caírem no reality show, e figurinhas bizarras (super heróis ao virar da esquina, homens que perderam a parceira sentem-se melhor se andarem em cuecas) mostram alguma vivacidade nas zonas menos conhecidas e à margem da Meca do Cinema.

Ainda com uma pequena aparição da portuguesa Sara Sampaio como convidada de um programa, The Clapper é assim um projeto entre a falha e a irrelevância, sendo assim perfeitamente evitável como comédia dramática, romântica ou o que quer que seja.


Jorge Pereira