Quinta-feira, 28 Março

«Fifty Shades Freed» (As Cinquenta Sombras Livre) por Jorge Pereira

Já dizia Oscar Wilde que “Tudo no mundo está relacionado com sexo, exceto o próprio sexo, que está relacionado com o poder.“. A saga As Cinquenta Sombras demonstra isso mesmo, ou pelo menos tenta jogar essa cartada, produzindo três filmes onde tudo parece ser um jogo de cariz sexual, menos as cenas de sexo em si, que são sobre poder entre dominador e dominado.

Com cerca de mil milhões de dólares conquistados globalmente, esta galinha dos ovos de ouro da Universal chega assim ao último capítulo (será?), o qual promete mostrar o casamento de sonho de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan), e a sua lua de mel de pesadelo.

Nenhum dos  elementos cumpre o prometido em termos de profundidade, tensão ou sensualidade, sendo o casal – e consequentemente o espectador – arrastado para mais um conjunto de trivialidades e lugares comuns que parecem mais uma desculpa para a saga funcionar – como normalmente – como uma melosa novela cliché muito pobre e um espaço para marcas promoverem os seus produtos.

E sim, há várias situações de sexo por aqui, mas tudo é tratado na forma de anúncio publicitário que só o poder de sugestão nos salva de morrer entediados entre ação banal, diálogos risíveis e softcore que mostra vestidos a subir, alças a descer, calças a serem desapertadas e algemas colocadas, focando-se nas peças e não no que está por baixo delas ou a sensualidade do que está a acontecer à volta

Começando pelo suposto sonho, o casamento do duo é tratado de forma fugaz e convencional, onde até os votos são do mais terrestre possível (“Eu prometo amar, confiar e proteger-te (…) Tudo o que é meu é teu (…) Eu dou a minha mão e o meu coração, até que a morte nos separe”). De seguida, parte-se para uma lua de mel em Paris, onde os planos têm de incluir os símbolos banais da cidade (a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo), não fosse o espectador achar que o novo casal de milionários (sim, agora é um casal rico, e não só ele, como a cena do jacto privado quer passar) não teria toda a ostentação do mundo para este período de celebração. Segue-se a Côte D’Azur, onde Christian mostra-se incomodado com o topless de Anastasia (a sério?). Aqui o filme dá meia volta e o casal terá de lidar com o regresso de uma personagem do passado que promete lhes infernizar as vidas.

O resto? O resto são desculpas de um guião para outras coisas surgirem em cena, como o stunt publicitário à Audi como desculpa para perigosidade, emancipação e excitação de situações “limite”. A suposta “emancipação” de Anastasia é também vista na cena em que visitam uma casa e ela se assume como a Srª Grey perante uma arquiteta loura – usada simplesmente nesta cena – que se revela alegadamente intimidante por claramente estar de olho no seu marido.

 

Na verdade, parece que nesta saga só há duas linguagens em cena; a publicitária e a de telenovela, carimbadas num enredo que envolve ainda um sequestro que tenciona ser um ponto nevrálgico de tudo, mas que acaba por ser resolvido às três pancadas de forma muito pouco ousada. O mesmo acontece com o sexo, que apesar de ocorrer em diversos locais, (barco, carro, cozinha, etc) mostra-se novamente púdico, sem uma verdadeira audacidade ou química entre o duo.

Estranhamente desmemoriado em relação à história dos filmes antecessores, muitas cenas são simplesmente absurdas, como Anastasia questionar se o avião de Christian é mesmo dele (Hello!! ele é milionário) e porque é que aquela figura do passado está chateada e lhes tenta estragar a vida (se calhar porque lhe lixaram a vida?). E é bizarro sentir isso ao longo de diversas outras cenas e no final ser “presenteado” com um videoclipe que resume os momentos mais marcantes do casal na franquia.

Por isso, As Cinquenta Sombras Livre é mais do mesmo. Simples, mundano, mau. Tanta conversa sobre isto porquê?


Jorge Pereira

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