Quinta-feira, 28 Março

«Denk ich an Deutschland in der Nacht» (If I Think of Germany at Night) por Hugo Gomes


Longo nos primeiros minutos deste If I Think of Germany at Night, DJ ATA refere que nos tempos de hoje tornou-se mais fácil fazer música, ser músico, entrar na indústria e converter-se num artista. Se pegarmos neste mesmo discurso e transladarmos para outro território – o Cinema – percebermos o quanto é fácil fazer filmes, ser cineasta, e entrar na dita indústria. Sim, o digital tornou a 7ª Arte numa arte democrática, num jogo de faça você mesmo e que melhor género desse exemplo que o documentário.

Se encontramos fascinação de Romuald Karmakar nestes artistas do mixing, o romper da nova fronteira musical, e como os seus trabalhos influenciam e são influenciados pela sociedade atual, é bem verdade que o seu olhar não transmite a devida catarse. Por entre planos fixos sem fundamentalismos para o “corpus” estudo, entrevistas sem o díptico da conversação (e um evidente esclavagismo das suas respetivas palavras) e, por último, sequências de concerto que não diferenciam em nada aquilo que as plataformas de partilha de vídeo nos oferecem, nada de realmente relevante para o Cinema é indiciado aqui. No fundo, falta-lhe a linguagem devida que possa “costurar” os discursos, as batidas e toda a investigação levada a cabo.

O resultado é nada mais, nada menos que uma preguiçosa construção. Nesse aspeto, é inglório o retrato dos artistas que atingem a hibridez de tons, que rompem fronteiras, e oferecem novas melodias numa manifestação tão estéril.

Mas deste mal também sofrem muitos “novos talentos”, encorajados por festivais regidos por esse conceito de “arthouse”. Se existe o cinema com nada para dizer, existe obviamente o outro lado, o discurso sem cinema. If I Think of Germany at Night é esse último caso. Esforço sem talento.


Hugo Gomes

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