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«Maze Runner: The Death Cure» (Maze Runner: A Cura Mortal) por Hugo Gomes

Chegamos à terceira e última parte desta distopia juvenil perdida em becos sem saída. Verdade seja dita, a competência não faz um filme, e Wes Ball por mais competente que seja a dirigir uma grande produção com foco centrado na fatia juvenil, dificilmente consegue bravamente sair do seu próprio registo.

Aqui a questão não é conduzir-se num guia de entretenimentos fáceis. Maze Runner peca, primeiro, pela coerência político-social que uma distopia poderia emanar (ao contrário do anarquismo envolto de revolta em The Hunger Games), e sobretudo por não trazer nada de novo às audiências. A começar pela primeira sequência, uma aspiração a Mad Max sem a orgânica de edição que o anexa, e a terminar na tentativa Senhor das Moscas como desfecho feliz e solucionável a um apocalipse materializado. Grandes corporações que tudo fazem para salvar a Humanidade da iminente extinção, um vírus quase “Romeriano” que gera criaturas desfavorecidas de realismo, e um grupo de jovens imunes inseridos em labirintos sintéticos de forma a descobrir uma cura. Sim, até nós questionamos a verosimilhança em tais métodos científicos, como tudo se servisse numa máscara circense de forma a injetar adrenalina num cenário pós-apocalíptico (sem acrescentar o facto desta mesma corporação intitular-se de WCKD, uma prolongada piada).

Nada faz sentido, mas mesmo sob o pretexto de “disbelieve” (descrença), Maze Runner não escapa ileso à homogenia da sua produção. Inconsequente até à quinta casa, longo até mais não (a culpa foi dos dececionantes resultados do segundo The Hunger Games, que deitou por terra o plano de duas partes) e demasiado automático no seu encaixe, não existem aqui personagens, apenas bonecos com objetivos definidos e até mesmos os “novos” instalam-se como figuras-ferramentas, cuja existência é a solução dos problemas dos protagonistas. Nesse sentido, é o contagio da narrativa videojogo, sem o realce de questões existenciais e dimensionais do seu cenário. Tudo é corrido com a passagem de níveis.

Contudo, percebemos o público-alvo disto, em tempos de smartphones e enxurradas e consumo fácil de informação. Esse espectador perdeu a paciência, distrai-se facilmente, e necessita sobretudo de filmes acelerados e demasiado explícitos, narrativamente falando, para merecer a sua atenção. Foi nisso que o Cinema se converteu: alvos fáceis, produções gigantescas e anónimas.

Maze Runner: The Death Cure pode não ser a pior “coisa” existente no panorama atual, mas o seu conformismo é sobretudo alarmante.  


Hugo Gomes