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«Basmati Blues» por Jorge Pereira

A Índia para totós

Eis mais um exemplo de uma imagem distorcida da Índia na forma de uma comédia romântica de Hollywood, com um toque musical com pretensões Broadway/West End, e que quer ser Bollywood (ou antes Mollywood?).

Confusos? Também nós, já que assistimos a eventos supostamente passados numa cidade no norte da Índia, Bilari (no estado de Uttar Pradesh), mas vemos imagens claramente do estado de Kerala (no Sul). Melhor, enquanto estamos nessa cidade (a norte) somos ainda convencidos que esse local (que é claramente no sul) não é a única coisa bonita na Índia, mas que devemos também visitar Kerala (que é o que estamos a ver!!).

Ainda mais confusos? Não se preocupem, Basmati Blues é um filme bem simples, tão simples na sua venda de imagens exóticas e emoções primárias (o amor e a auto-descoberta) a única coisa que o salva de ser um completo desastre é a forma ativamente descomplexada como o próprio filme se encara: um daqueles pastiches melosos em que a brilhante ocidental vai para um país do terceiro mundo para ajudar a sua civilização subdesenvolvida, mas acaba por aprender muito sobre ela e sobre quem são afinal os menos desenvolvidos e desprovidos de humanidade.

Linda (Brie Larson) é uma cientista com um enorme coração que parte para a Índia a mando da sua empresa para convencer os agricultores locais a comprarem sementes de arroz geneticamente modificado. Aí ela vai entrar num triângulo amoroso e vai ter de lidar com um lugar tão estranho como interessante, expandido assim o seu universo para além do laboratório a que está habituada.

O resto são doses de sacarina industriais, com cantigas, danças, e um amontoado de lugares comuns disposto a atrair fãs de filmes panfleto e postais turísticos.

Existem também algumas mensagens a passar: uma, muito comum – ainda mais no cinema indiano – a de ricos/castas mais altas corruptos Vs pobres idealistas na luta pelo amor. A outra, mais anticapitalista, mostra o temor que se tem por empresas como esta (uma clara alusão à Monsanto), que tratam sementes como quem trata de software, com licenças anuais e obrigações contratuais tóxicas.

As boas intenções morais – o que quer que isso seja – estão lá e dá um gozo tremendo ver Donald Sutherland e Brie Larson em cantorias que não lembram ao Diabo, mas Basmati Blues é tão pobre no seu conjunto e tão pedestre, que apenas se consegue olhar para ele como um elefante colorido no meio do Holi…

Talvez vire kitsch daqui a uns anos…


Jorge Pereira