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«Justice League» (A Liga da Justiça) por José Pedro Lopes

Gostar do presente, gostar de gostar” lá canta Adriana Calcanhotto naquele lindo à infância que é o seu “Também Vocês”.

Como adulto que cresceu com os livros de quadradinhos debaixo do braço (quer Marvel quer DC), e que já mais crescido ficou boquiaberto a ver o meu “Ace Ventura” a ser vilão do Batman (“Para Sempre”), e que como pai agora lá vê o Cyborg a dizer disparates no “Teen Titans Go!” (do Cartoon Network), não imagino muito por onde se odiar «A Liga da Justiça». Deixa-me um bocado surpreendido como há tanto prazer em dizer mal, odiar, meme(izar) ou dissecar um género de filmes que há uns anos atrás era feito para quem gostava de ver homens de licra a mandar laser dos olhos contra bicharocos.

Dito isto, posso adiantar que gostei de «A Liga da Justiça» e que mais, gostei de gostar. O filme consegue gerir, de forma graciosa e dinâmica, aquilo que é uma equipa de super-heróis extraordinariamente poderosos e muito diferentes. Aliás, Batman e o seu mordomo Alfred bem que queixam de serem os únicos pedestres da equação.

No entanto não me surpreende: este “line-up” de heróis é diverso e o talento que os interpreta ajuda. Ezra Miller reinventa o «Flash» como um herói (sobre)entusiasmado enquanto que Jason Momoa incorpora o absurdo “cool” que são as habilidades de «Aquaman». E claro, sem surpresa, Gal Gadot deslumbra como «Wonder Woman», e o filme mais não faz do que lhe dar o comando das ações.

Após uma primeira metade protocolar de introdução de heróis (que é, no entanto, interrompida por duas fantásticas sequências que opõe os invasores Parademons à Amazonas, e outra em estilo “O Senhor dos Anéis” que nos relembra porque o espírito DC Comics é descabeladamente louco), o filme tem de lidar com a grande questão: temos ou não Super-Homem?

A resolução dessa dúvida e o que vem a seguir relacionado com o Homem de Aço são para mim as melhores partes do filme, e a dinâmica e química que ia descompensada encontra um ponto perfeito. Dizer mais seria estragar o melhor do filme, por isso, fica apenas o apontamento.

Há, no entanto, algumas atribulações, certamente herdadas do que foi uma produção atribulada. Steppenwolf é um vilão linear e desinteressante (e erradamente todo feito em CGI) e nunca se põe como uma verdadeira ameaça (aliás, Diana Prince a certo ponto até lhe diz “tu sobrestimas-te”). E o cunho autoral de Zack Synder está minimizado, algo que me parece pena considerando que o filme é narrativamente o fecho de uma trilogia.


José Pedro Lopes