«It Comes at Night» (Ele Vem à Noite) por André Gonçalves
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Uma casa no meio de um território por explorar. Um cenário desolado, num tempo quase indeterminado, mas poderíamos dizer "pós-apocalíptico", chocando com muita da literatura recente distópica. Uma família guarda-se dentro de quatro paredes, contra uma ameaça maligna desconhecida. Entretanto, a chegada de uma jovem família (intrusa) ameaça este equilíbrio trágico, com a paranóia humana (se não animalesca) a condicionar uma convivência comum saudável.
É assim que Trey Edward Shultz decidiu seguir o êxito relativamente inesperado da sua primeira longa-metragem Krisha, um drama familiar de contornos trágicos, que, por sua vez, já dava sinais de estarem reunidas as condições para o triunfo do realizador no cinema de género onde a tensão é precisamente a palavra-chave.
Essa tensão é novamente a característica central aqui. Mas se o "monstro" de Krisha era palpável, se se permitia a um clímax digno da melhor novela nunca vista, aqui é tudo internalizado. Tudo sugestão, tudo um frisson - de bom gosto (i.e. bem filmado, bem iluminado, com boas representações), sim, mas ultimamente, capaz de gerar uma reação frustrante por parte de quem esperava uma resolução concreta. E aí está um ponto nevrálgico da obra: acreditar genuinamente que este vazio é algo mais significativo que qualquer explosão expectante. Não o é; e nada aqui é propriamente inovador dentro ou fora do género que Shultz decide (não) operar.
Em suma: It Comes at Night mostra sim uma voz capaz de transformar por dentro uma América formatada, presa a pacotes de sustos genéricos; mas que isso não o traga a falsa arrogância de que mostrar nada é mais que o suficiente para se safar - pode, pelo contrário, revelar cobardia e render todo o exercício a um acontecimento pouco memorável.
André Gonçalves
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