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«Dom Fradique» por Jorge Pereira

Fala-se do Terramoto de 1755 e do Tsunami que afectou toda a baixa de Lisboa, mas neste Dom Fradique de Nathalie Mansoux a nova onda que invade a capital é de turistas. Quem lá está no Pátio do Dom Fradique agora são pombos, gatos, ruínas e memórias, isto num local onde já viveram mais de sessenta famílias, mas que agora se apresenta devoluto e entregue a fantasmas do passado.

E é isso que o filme da cineasta francesa que vive em Lisboa há cerca de 20 anos apresenta, uma alegoria de fantasmas, seja o antigo habitante Zé Maria, que se tenta adaptar aos novos tempos, seja o Dom Fradique em pessoa, montado no seu cavalo branco – Ricardo Aibéo a vestir os dois papéis. E se o terramoto sentiu-se até na Finlândia, a força do turismo lisboeta vai até terras mais distantes.

Mansoux veste o seu filme com tons nublados, nostálgicos e bucólicos, joga com a luz natural, e faz um quadro do passado socorrendo-se de reimaginações de histórias do antigamente para mostrar as almas «penadas» que deixaram a zona, mas que ainda marcam o local.

No final, o madrigal Amarilli, mia bella ecoa num espaço onde se teme o que o mercado imobiliário fará dele, até porque como alguém diz a certa altura, Lisboa está à venda.


Jorge Pereira