Terça-feira, 19 Março

«Geostorm – Ameaça Global» por André Gonçalves

Há filmes fracos e “timings” diabólicos.

Geostorm chega precisamente na semana após a segunda grande calamidade nacional de 2017, com vários incêndios por todo o país a queimar milhares de hectares da nossa floresta – isto em pleno mês de outubro.

É com essas imagens, expostas e replicadas à exaustão, que entramos e bem na realidade que o filme nos mostra: um mundo afetado pelas alterações climáticas onde a Humanidade tem uma responsabilidade gigante. Cheias, secas, furacões… isto tudo é o nosso mundo, logo a componente ficção científica que se segue adapta-se facilmente: a construção de satélites que possam assim servir de “termostato”, assim em linguagem muito simples. Só que, com esta invenção, vem inevitavelmente a sede humana/animal pelo domínio territorial, e de transformar uma solução milagrosa numa arma.

Primeiro filme para cinema de Dean Devlin, produtor histórico de “filmes-desastre” para Roland Emmerich (como Independence Day ou Godzilla), Geostorm mostra-se tão em gratidão para os desastres de Emmerich (embora aqui esteja menos focado em destruir monumentos e mais a avançar para qualquer terreno) como, espante-se, Gravidade de Alfonso Cuáron. Pois é, o filme incontornável de 2013 ganha aqui mais um descendente, pois é também a bordo de uma estação espacial que o nosso “herói” se vê também aflito a tentar reparar uma avaria global no sistema aparentemente perfeito de gestão do clima da Terra, enquanto testemunhamos várias cidades mundiais a serem destruídas.

São comparações que não ajudam um filme que é, convenhamos, visivelmente fraco, e ultimamente ridículo nas suas frases climáticas (Nem sequer os efeitos são tão impressionantes para os mais acostumados do género). Tão visivelmente fraco que suspeitamos que a própria equipa esteja na piada, e este entretenimento já de si série B, composto por um elenco de atores também na linha de água, sempre em ameaça de esquecimento global (Gerard Butler, Abbie Cornish, Jim Sturgees, Andy Garcia), ganhe aqui e ali gargalhadas também intencionais que possam assim validar o estatuto “over the top” da sua proposta. Está longe de ser o suficiente para dar o rótulo de “tão mau que se torna bom“, mas o tempo não é dado totalmente como perdido.


André Gonçalves

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