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«Rosalie Blum» por Jorge Pereira

Adaptação da trilogia de novelas gráficas de Camille Jourdy, Rosalie Blum acompanha uma pequena cidade do interior e um trio singular composto por Rosalie, Aude e Vincent, cujas histórias se vão cruzar após o último ficar intrigado com a misteriosa Rosalie, ao ponto de a seguir e estudar.

Mas antes de pensarmos que estamos perante um “stalker”, compreenda-se que a certo ponto da história passa ele a ser o objeto seguido, sendo preferível dar uma oportunidade e compreender todas estas personagens, apresentadas no filme como na novela gráfica, numa espécie de capítulos que demarcam a perspetiva dos eventos para cada um.

Vincent é um cabeleireiro que vive no andar debaixo da casa da mãe, uma mulher intrusiva com gosto particular por peluches e interpretações de fantoches. Calvo demasiado cedo, este homem rotineiro e sensível é culturalmente elevado (gosta de Cinema Japonês, ouve Belle and Sebastian), fazendo de certa maneira lembrar a personagem de Dick (Todd Louiso) em Alta Fidelidade. Tal como Vincent, Rosalie é reservada, mas fica curiosa com a “perseguição” que este lhe faz, contra-atacando através da sua sobrinha, Aude, uma jovem que aos poucos começa a interessar-se mais com a personalidade de Vincent, tornando-se ela mesmo – e arrastando as loucas das amigas – como a perseguidora do solitário.

Comédia ligeira de pinga-amores introvertidos que procuram timidamente mais cor nas suas vidas, Rosalie Blum é um filme que claramente faz lembrar O Fabuloso Destino de Amélie em alguns momentos e que vive de protagonistas empáticos (Noémie Lvovsky, Kyan Khojandi, Alice Isaaz) e secundários burlescos (Anémone, Sara Giraudeau, Philippe Rebbot), conduzindo o espectador através de diálogos seguros e curiosos mas nunca arrojados e suficiententemente brilhantes para elevar a fantasia romântica e o conto de fadas moderno para um nível para além do bonitinho, bem filmado e sincero. 

Assim, esta primeira longa metragem de Julien Rappeneau é demasiado morna e algumas vezes  mesmo desinspirada, pois nunca consegue encontrar verdadeiramente o tom certo com que deve seguir as personagens densas e bem construídas que possui.


Jorge Pereira