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«Pour le réconfort» por Jorge Pereira

Nesta adaptação livre da peça O Jardim das Cerejeiras de Tchekhov, o prolífico ator francês Vincent Macaigne (A Batalha de Solferino, A Rapariga de 14 de Julho) estreia-se na realização de longas-metragens para o cinema com um trabalho cansativo a nível narrativo, sem ritmo e maçudo na apresentação dos eventos e a ultrapassar diversas vezes a linha do pretensiosismo na poesia dos contrastes de personagens que refletem a eterna luta de classes e a forma com os indivíduos são afetados pelas mudanças sociais.

Compreenda-se o contexto, a época, e os dramas sociais em que a peça cómica com tiques de farsa – que viria a ser transformada em tragédia por Stanislavski – foi executada. Traslade-se então para os nossos tempos, e para a crítica implícita que o cineasta faz à sua geração.

Macaigne, que explora o 4:3 e usa frequentemente mecanismos teatrais na sua execução, dá ao trabalho de Tchekhov uma continuidade contemporânea com redes sociais, conversas no Skype, festas de música eletrónica, etc, que acentuam a temática da globalização e da suposta aproximação de todas as pessoas no mundo, mas que ditam na realidade um afastamento pessoal e social dos indivíduos, e que aqui acentuam o cinismo e a cólera entre os herdeiros “aristocratas”, que vivem no conforto deixado pelas heranças familiares, e os “novos burgueses”, que os querem destronar.

A questão primordial é que os monólogos e diálogos deste Pour le réconfort caem vezes sem conta num antinomismo histérico de figurinhas que vagueiam entre o passado, presente, e futuro com contas por ajustar e onde o que parece sobressair é que há rancores inultrapassáveis e que o estado de guerra civil entre classes nunca vai se extinguir. Ah, e «a velhice é o futuro».

Tudo muito intelectual, bonito, interessante para discutir, mas tudo muito chato e sem genica nas mãos de um cineasta que ainda se perde frequentemente em vaidades de autor, como quando entre imagens garridas (discotecas, festas) e obscuras (nas madrugadas perto do riacho) faz uma espécie de legenda intelectiva de estados de espírito sem grande ambiguidade. Uma perda de tempo….


Jorge Pereira