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«Blue My Mind» por Fernando Vasquez

É curioso como de há uns anos para cá têm surgido em cena tantas jovens mulheres atrás das câmaras, entrando destemidamente na cena internacional com trabalhos focados na metamorfose corporal e sexual da adolescência e juventude, seja ela real, imaginária ou simplesmente metafórica. Grave de Julia Ducournau, The Lure de Agnieska Smoczynska ou até mesmo Bando de Raparigas de Céline Sciamma, marcaram, de certo modo, o inicio de uma corrente que agora se alastra de forma imparável.

O lançamento de Blue My Mind, trabalho de fim de curso da cineasta Suíça Lisa Bruhlmann, na competição Novos Diretores do Festival de San Sebastian, é um exemplo disso mesmo, fortalecendo os alicerces desta “nova” corrente.

Blue My Mind introduz-nos a Mia (Luna Wedler), uma jovem adolescente recém chegada a uma nova cidade e escola, cujos tumultos da puberdade dificultam a adaptação ao seu novo universo. O conforto aparente do lar esconde crises mais profundas, e acima de tudo um passado indefinido e misterioso. É neste contexto que Mia encontra uma alternativa dentro de um “gangue” de raparigas lideradas pela exuberante Gianna (Zoe Pastelle Holthuizen), instigadora de muito deboche. Os rapazes, o sexo, o álcool e as drogas passam a assumir papel de destaque na vida de Mia, que à medida que os seus hábitos ficam mais extremos tão se amplifica o tormento causado pelas transformações físicas inexplicáveis, e (spoiler alert) também por uma invulgar obsessão pelos peixes do aquário da sua mãe.

O estilo sonhador e deliciosamente embriagado de Bruhlmann é deveras sedutor, capaz de conciliar coerentemente os ambientes de euforia de festa e da descoberta sexual das raparigas, com o do temor que as novas transformações provocam na protagonista.

Com uma câmara flutuante, vai imprimindo um ritmo de tensão crescente, que decora esta história “coming-of-age” com tons de um realismo magico muito atraente, ainda mais requintado por um excelente trabalho de caracterização e esporádicos mas eficientes efeitos tecnicos.

Para isso muito contribui também a performance confiante de Luna Wedler, que apesar de inexperiente, triunfa em grande estilo, acima de tudo nos momentos em que a personagem exige uma tensão persistente mas contida.

Blue My Mind peca no entanto por ser algo previsível, oferecendo demasiado pouco ao género, para além de alguns apetrechos visuais cativantes, principalmente quando comparado com alguns filmes ainda a circularem pelo circuito.

A própria metáfora de transformação física e psicológica em plena puberdade não é exatamente subtil, mas desenganem-se aqueles que pensam que Blue My Mind é incapaz de distribuir vários tiros no alvo. A elegância da direção de Lisa Bruhlmann, a performance firme e carismática de Luna Wedler, e uma abundância de momentos inesperados, são argumentos mais que suficientes para que esta primeira longa-metragem se apresente com dentes afiados, delicadamente refinada e singular.


Fernando Vasquez