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«El Bar» por Hugo Gomes

Advertência: apesar da invocação temática, El Bar nada tem relacionado com o referendo da independência da Catalunha e o conflito envolto, mas é curioso mencionar que há alguns dias atrás a Guarda Civil apagou centenas de página de apoio ao referendo. Esta ofuscação de informação, uma censura dos tempos modernos, poderá seguir no encontro com a farsa na mais recente obra de Álex de la Iglesia. O medo como catalisador de uma submissão, e o embuste devidamente agendado por organizações governamentais, como a pintura perfeita dessa mesma incisão.

Em El Bar não assistimos a nada de relacionado com as fragâncias desta Independência “indesejada”, possivelmente a alusão mais próxima seja os ataques de 11 de março de 2004, um ato terrorista que incendiava os meios de comunicação deste Mundo fora. Enquanto o resto do Globo falava na autoria da Al Qaeda, os medias estatais, assim como o Governo em seus inúmeros relatórios e opiniões apontavam o “dedo” à ETA, isto a 3 dias da eleições espanholas.
 
Iglesia cria um filme de cerco sob o signo do medo e da fraude do sistema, mas infelizmente, apesar da crítica tardia, nada salva El Bar de se tornar num mero subproduto regido às regras formais do seu subgénero. O realizador por detrás de alguns dos maiores êxitos do cinema catalão (El Día de la Bestia, La Comunidad) arranca com um plano sequência que se apresenta como uma catálogo vivo das personagens que nos vão acompanhar na restante hora e meia de duração. Depois deste leque entrar num determinado bar e as portas deste fecharem após um inesperado incidente, o espectador logo é induzido aos seus lugares-comuns. O perfil psicológico deste grupo de fácil avaliação e o dinamismo, que porventura poderia suscitar, morre na praia quando a previsibilidade das suas caracterizações desvendam personalidades de cartão.

O psicótico de última hora, o sensato, a “final girl” e a suspeita em crescendo nãos nos surpreendem. Desde os primórdios do filme de cerco, com grandes exemplos em 12 Angry Men, de Sidney Lumet, El ángel exterminador, de Luis Buñuel, e mais recentemente com Buried, de Rodrigo Cortés, e mother! [1], de Darren Aronofsky, que somos visitados com um género preguiçoso e cada vez mais encostado às suas limitações.
 
Até Álex de la Iglesia já havia cometido tais atos. Sim, há aquele factor medo, aquela crítica tímida a um país que se revela através das suas ações, uma ditadura disfarçada. Só é pena que a El Bar falte mesmo novas ideias, e de cinema, de preferência.     

Hugo Gomes