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«Wind River» por Hugo Gomes

Depois da escrita, Taylor Sheridan (argumentista de Sicário) apresenta-nos a sua primeira experiência … perdão … segunda na realização (visto que após as primeiras apresentações deste Wind River houve uma tentativa de ofuscar o seu primeiro trabalho na direcção, o terror Ville, em 2011).

Eis um cold western que se assume como um policial à paisana, um prolongamento de um mero episódio CSI sob a desculpa de um diálogo “intrínseco” entre uma América em plena recusa com o seu passado. Temáticas, essas, já abordadas no seu anterior guião, Hell or High Water, de David Mackenzie, graciosamente refinada na química entre Jeff Bridges e Gil Birmingham: “Não é suposto os índios sentirem pena por um cowboy“. A decadência identitária desta América em que os índios se vêem forçados a integrar uma sociedade feita por semi-tolerâncias é agora um ponto de partida para a expansão deste extenso whoddunit.

O resto é colocar os “vingadores” à patrulha (Jeremy Renner e Elizabeth Olsen novamente como dupla) e deixar-nos pelo rotineiro da narrativa que recorre às mais extremas preguiças do ramo (flashbacks sem utilidade alguma, sem ser para induzir um profundo maniqueísmo nesta busca) ou da cumplicidade com a violência primária ao invés de repugná-la. Foram situações que o anterior Hell or High Water soube conduzir sem erros de principiante, enquanto que em Taylor Sheridan, encontramos uma persona demasiada presa às suas palavras e vírgulas, sem a fluidez técnica (por vezes parece que não há tripé para planos fixos) para dinamizar essa própria história. Aí nota-se a importância de um realizador visual, aquilo que Mackenzie era tão bem.

Quanto a reflexões da decadência nativa, assim pega, assim esquece. Wind River está condenado ao hype de award season (talvez seja a falta de propostas adultas em sala), mas infelizmente ficamos com a promessa. Sim, Taylor, só as promessas de um messias deste subgénero.    

Hugo Gomes