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«2:22» (2:22 – Hora Fatídica) por Jorge Pereira

Algures em 2:22 está um potencial bom filme, mas o cineasta australiano Paul Currie está tão confiante no estilo visual que idealizou (na sua forma videoclipe) e num argumento repleto de frases abstratas sobre o amor, eternidade e o cósmico que acaba por se perder em lengalengas inconsequentes que provocam mais risos inadvertidos que discussões intelectuais ou apaixonadas sobre os temas alinhados.

Dylan (Michiel Huisman) é um controlador aério perito em encontrar padrões que, após algumas situações bizarras e premonições, que normalmente culminam numa gare ferroviária com eventos às 2h22, começa a perceber que está ligado ao antigo ocupante da sua casa e a uma jovem (Teresa Palmer) que trabalha numa galeria de arte, e que tudo isso pode conduzir a uma eventual catastrófe que afectará a vida de todos.

Na verdade, 2:22 faz parte de um lote de filmes que são lançados quase anualmente sobre destino e coincidências (estas não existem), um tema que diversos cineastas já pegaram e contorceram consoante as suas necessidades (como M. Night Shyamalan, por exemplo). E embora distante na forma e conteúdo, é inevitável lembrarmos-nos de trabalhos como Efeito Borboleta, Destino Final, No Limite do Amanhã ou até a série The OA, embora aqui o resultado final seja todo orientado para uma história de amor banal sem grande chama e não para um debate verdadeiramente metafísico sobre o Homem e o predestinado (ou não).

Ao ceder perante esse romance sensaborão, seguindo a via mais fácil de captar os pinga-amores que assistem a tudo com uma mensagem a roçar o patético de que a «a culpa é das estrelas», o cineasta australiano perdeu assim uma bela oportunidade de criar um potencial filme de culto, diminuindo-se assim a um projeto essencialmente visual com muito para mostrar, pouco para dizer e quase nada para pensar.


Jorge Pereira