Sexta-feira, 29 Março

«The Great Gilly Hopkins» (A Fabulosa Gilly Hopkins) por Jorge Pereira

Se há distribuidor que aposta principalmente em filmes “feel good” é a Outsider, que encontra aqui neste A Fabulosa Gilly Hopkins um drama chorão com uma mensagem universal para agradar ao público sobre uma menina problemática entregue para a adoção que vai perceber que o conceito de família vai muito para além do sangue.

Baseado no livro homónimo de Katherine Paterson (autora do já adaptado ao cinema O Segredo de Terabítia) lançado em 1978, estamos perante aquilo que chamamos “filmes para toda a família”, mas que certamente vai encontrar alguma resistência nas audiências mais ecléticas devido ao seu tom demasiado bafiento e adocicado ao estilo Disney. Isto numa história já repetida em dezenas de filmes e telefilmes que, normalmente, invadem as salas e cinemas nas épocas festivas.

Na verdade, A Fabulosa Gilly Hopkins nunca sai de uma forma demasiado televisiva. Merece particular destaque, no entanto, o trabalho dos atores mais velhos, com destaque para o trio Kathy Bates, Bill Cobbs e Glenn Close, com uma curta (mas interessante) presença de Octavia Spencer no papel de uma professora que não desiste de procurar que Gilly (Sophie Nélisse) explore na totalidade o seu potencial- Isto para além de uma Julia Stiles tratada de forma redutora para acabar por ser a vilã de serviço.

O resto é a força interior de Nélisse a funcionar, uma jovem que conhecemos desde Professor Lazhar e que tem dado cartas – sem nunca brilhar – em filmes como A Rapariga Que Roubava Livros e no ainda inédito em Portugal, Mean Dreams: Sonhos Perdidos. A forma como ela agarra o papel é suficiente para que acompanhemos o filme até ao fim, mas numa personagem e história com tantos lugares comuns da moralidade será difícil sair da mera prestação formatada e inconsequente.

De resto, destaque para a forma abusiva com que a banda-sonora não-diegética é usada, mais um elemento que coloca o filme na esfera da velha Disney, tentando absorver o espetador e conduzi-lo às lágrimas num jeito demasiado intrusivo e tornando toda esta experiência em algo demasiado amorfo e destinado a manipular os sentimentos mais básicos de quem assiste. E isto tudo sempre negando a velha máxima do “viveram felizes para sempre”.


Jorge Pereira

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