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Esplendor: o solarengo olhar de Naomi Kawase

Naomi Kawase deve pensar que fazer Cinema é o mesmo que pastelaria, que pode abusar assim no açúcar e tratar o espectador como um diabético sob vontades suicidas. Radiance (Hikari) é o filme que precisava de mais ciência e menos emoção, até porque é fácil cair na história dos “coitadinhos” ao abordar personagens cegas e outras, como é o caso do coprotagonista (Mantarô Koichi), em contagem decrescente para o igual estado.

O porquê de insinuar que falta mais cabeça e menos hinos do coração? Simples. Kawase tem ideias iniciais, tais como o cinema para invisuais onde as palavras adquirem o poder da imagem, obviamente alicerçado à imaginação, sentido apurado para muitos dos seus utentes. Depois existem os ocasionais POV (Point-of-View) que transportam o espectador para a situação vivida, transmitindo um tormento de impossível compreensão para quem ainda possui todas as capacidades de visão.

Infelizmente, essas ideias são descartadas porque a nossa realizadora está desesperada em emocionar o espectador, em utilizar a música como uma linguagem manipulativa, de orquestrar protagonistas de fraco desenvolvimento (mesmo assim, há que reconhecer o esforço e a sensibilidade da atriz Ayame Misaki) ou de “castigar-nos” com os milésimos pores do sol, simbolismos baratos e cores quentes com objetivos “kamikazes” para o nosso coração. Não, a emoção não se força. A emoção é algo vivenciado naturalmente.

Naomi Kawase confundiu então o poder das imagens e da sonoplastia (essa riqueza sensorial que o Cinema nos pode oferecer), confundiu as personagens e as suas desesperadas situações e, pior, confundiu o tom meloso que nunca desgruda de nós. Diríamos penoso? Não é bem isso, mas sim sobrelimitado à sua ideia de cinema. E infelizmente as ideias ficaram à porta e dela nos acenaram: um filme falhado e demasiado radiante.