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Visages, Villages: em cada rosto, em cada lugar

Visage, Villages nasceu da admiração mútua e correspondida entre dois artistas de meios transversais, que unem esforços por uma causa conjunta. Essa, a de encontrar os limites simbólicos das imagens, ou a latência das memórias que parecem assombrar os locais visitados pela dupla. De um lado, Agnès Varda, um dos nomes maiores da nouvelle vague (discutivelmente poderá integrar um movimento próprio), reconhece as fotografias do seu parceiro como uma declaração de humanidade captada, e do outro lado, a mente fotográfica de JR a citar na perfeição os frames da filmografia de Varda, constituindo-as como inspirações do seu prestigiado trabalho.

É uma viagem turística, podemos assim chamar, as missões que assinam com tamanha motivação, e a cumplicidade que se deixa transparecer, consolidando as divergências artísticas de ambos. Mesmo que Visage, Villages seja um filme sobre dois olhares, erguido com o trabalho de quatro mãos, é em Vardas que o projeto se aprofunda e reside. Será isto a sequela, de alguma forma o esperávamos, de As Praias de Agnès, aquele anúncio de reforma que não se cumpriu?

Podemos apostar que sim, a realizadora interioriza a sua carreira, da mesma forma que exorciza a sua vida pessoal e afetiva durante uma demanda apimentada com um contagioso humor. Sim, experiência pessoal, se não fosse o facto de JR relembrar-lhe um fantasma de um Godard em “verdes anos”. A sombra de uma relação corrompida e a possessão da nostalgia. Nunca voltes ao lugar onde foste feliz. Varda, porém, como qualquer rebelde que se preze, despreza a “lição moral” e o resultado fica à vista num esperado encontro, burlado à última hora. Nos olhos da realizadora belga nota-se a emoção, a tristeza, a compaixão, o sofrimento de reviver sentimentos vividos num passado cada vez mais longínquo.

Aqui, percebemos o verdadeiro propósito deste ensaio de artes, a linguagem das imagens e a sua força, portais infinitos apenas possíveis através do uso da nossa imaginação, aliás foi assim que Varda respondeu quando lhe perguntaram o porquê desta demanda em ilustrar a paisagem. Um pequeno grande filme.