Balde de água fria! Okja não é mais que um produto que se joga sobre competências industriais para captar um cinema apto para todos, e não o oposto (nada contra o acessível, mas filmes que forçam para isso é outra história). É o modelo de filme familiar acasalado com um negro panfleto da PETA, a alternativa dispendiosa de uns “cowspiracy”. Contra o consumo excessivo de carne, subsequente os questionáveis processos de criação em massa, uma campanha green servida de propósito para a Netflix.

A plataforma, agora virada em produtora, ambiciona um tom de cinismo a toda esta obra de gado mutante e de civilização “selvagem”, e para isso contratam Bong Joon Ho, que à imagem do seu anterior Snowpiercer consegue invocar tamanha sensação de “máscara” logo nos créditos iniciais. Mas visto que falamos de um realizador habituado a criaturas digitais (basta relembrar a sua variação kaiju em The Host), Okja aposta forte e feio no seu animal computorizado, cuja intenção não é mais que construir um vínculo emocional entre este suíno-hipopótamo com a jovem Seo-Hyun Ahn, e assim, sucessivamente com o espetador (numa grotesca réplica da matriz Disney). Ligação essa que se remeterá como o objetivo priorizado de uma aventura em modo veloz e furioso.

Uma produção a cumprir agenda, com toques de clara minimização de um ambiente pesado que, porventura, irá surgir num terceiro ato, aqui o fantástico culminado pelos avanços tecnológicos a servir de protótipos do nosso quotidiano e parabolizá-lo em contornos apocalípticos. Contudo, Okja é um filme maniqueísta, aborda questões, mas não possui a tamanha coragem para contrair uma ambiguidade, o resultado é iminente, mesmo com uma simulação de PETA em jeito caricatural, é a sua miopia que nos leva a lugares sem saída possível.

Diríamos antes, que Okja é a Maria Antonieta dos filmes, confrontada com a fome mundial e a sobrepopulação (uma situação que parece ninguém querer arranjar uma solução), manda-nos literalmente comer “ervinhas”. Falta o outro lado, e para este filme de Bong Joon Ho falta a convicção da sua palavra! Sobra com isso Tilda Swinton, a nossa pitoresca sem medo de se humilhar.