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«Kongens Nei» (A Escolha do Rei) por André Gonçalves

Da Segunda Guerra Mundial, continuam a chegar-nos histórias e heróis para o ecrã nunca antes conhecidos pelo espectador comum, um feito por si estrondoso, dado o gigantesco lote de obras ao longo das últimas décadas sobre este tema. Isto não significa, no entanto que estejamos perante novos olhares, novos paradigmas…

Neste caso, é-nos revelada a história da decisão difícil do monarca da Noruega em 1940, quando confrontado pela invasão das tropas alemãs no seu território. Por um lado, pode tentar negociar um acordo com os alemães, abdicando assim da sua soberania, e tornando a Noruega um aliado do “eixo”; por outro, pode tentar lutar pela soberania, mas “condenando” um sem número de jovens aos campos de batalha em luta contra o império cada vez mais assustador de Hitler.

Sendo uma escolha compreensível da Noruega como representante “oscarizável” de 2016, dado o seu carácter polido e precisamente sabendo o amor das Academias por aquela que é globalmente vista como a pior guerra que a Humanidade enfrentou no último século, a verdade é que d’”A Escolha do Rei” sobrará pouco mais que uma lição de história servida por valores de produção profissionais, mas sem uma verdadeira mão de mestre a orquestrá-los. Mesmo uma breve mudança de ponto de vista de câmara pelo realizador Erik Poppe se torna mais gratuita (i.e. exibicionista) que realmente útil.

Se há alguma tentativa de enrugar este tecido, é passada despercebida. Tudo isto parece ter saído de um documento histórico encontrado na biblioteca, tal o perfeccionismo em detalhar data, hora e local a cada interação, para além de seguir à risca o modelo fechado do “biopic”. Sim, há aqui uma estratégia semi-ambiciosa em contrabalançar uma vertente mais “diplomática” por assim dizer (a família Real, o Governo/Parlamento e o Embaixador da Alemanha), que vive muito do diálogo, com uma visão “prática” de batalha (pela perspetiva de um jovem soldado). Mas de pouco serve a uma obra tão obcecada na sua corretidão e em não deixar qualquer fio solto.

Resumindo, esta constante atar de todas as pontas, e relato preciso no espaço e tempo transformam “A Escolha do Rei” num documento tão historicamente interessante (como alternativa audiovisual a um arquivo de biblioteca), como cinematograficamente limitado, abafado, aborrecido.  

O melhor: a cinematografia e valores de produção.

O pior: o tom académico e nada sujo de todo o relato

André Gonçalves