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Ornamento & Crime: um bom português

Ao ver Ornamento e Crime, a sensação é praticamente idêntica de ter visto Um Bom Alemão, de Steven Soderbergh, há alguns anos atrás, que tentava a passos citar Casablanca no seu modo produtivo. Temos um cinema tributo que não sai desse mesmo ato, o de forçar um ligação com a memória cinematográfica do espectador.

O resultado é iminente neste episódio film noir de Rodrigo Areias (que já se tinha aventurado em outro género póstumo, o western em A Estrada de Palha), onde a música colaborativa entre Rita Redshoes e The Legendary Tigerman batem certo numa incursão reservada em termos de personalidade. Ou seja, o que assistimos não é mais do que um mero exercício de reflexão de género, mas o vazio abate-se perante as referências e lugares-comuns propositados.

Porque o film noir morreu há anos, o que resta são os seus embriões, e mesmo sendo apetecível este saudosismo por um subgénero tão característico, sentimos-nos presos a uma peça de museu, com a arte pedagógica de informar e relembrar-nos que em tempos existiram filmes assim. Sem desfazer a contribuição artística por detrás de Ornamento e Crime, desde a fotografia, ao som e à capacidade de mimetizar dos seus atores, este é um filme que nos fascina pelo que invoca e não pela sua presença. Entre detetives privados, casos de infidelidade, gangsters, prostitutas e femme fatales, somos corridos a uma pele de cobra, brilhante, esplendorosa à luz natural, mas oca por dentro.

Ornamento e Crime é tudo aquilo que esperávamos numa proposta destas, e tal como soa a sua melancólica banda sonora e citando essa letra de cabaret, é caso para dizer que estamos perante num filme “Vodoo”, um objecto que respira somente através dos outros. Não era isto que tínhamos em mente quando falamos em dinamizar o cinema português.