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«En Man som heter Ove» (Um Homem Chamado Ove) por Duarte Mata

Não se percebe o entusiasmo que a crítica norte-americana (e os membros da Academia que rejeitaram a nomeação ao vencedor quase certo, Elle [1], por isto) tiveram a propósito da comédia-dramática sueca Um Homem Chamado Ove, menos original e aproveitada do que à primeira vista poderia parecer. A estrutura narrativa assemelha-se bastante à de Do Céu Caiu uma Estrela, o clássico de Frank Capra onde um homem tinha a sua tentativa de suicídio (aqui várias, todas elas frustradas e recheadas com uma deliciosa porção de humor negro) adiada por uma viagem ao passado, feita epifania espiritual sobre a importância do altruísmo nos tempos da Depressão e Segunda Guerra Mundial.

Ora, para além de Um Homem… não ter o eventual contexto económico e cultural que conferia ao filme anterior dramatismo e compadecimento suficientes, Hannes Holm não é um realizador tão delicado quanto o italo-americano, efetuando a maioria de cada cena no triste desenrasco cinematográfico do campo-contracampo, acerbo e formatado. Talvez o que lhe interesse mesmo seja o trabalho de atores (e o protagonista, Rolf Lassgård, faz o melhor que se poderia pedir com este idoso bisonho e antiquado, quase um primo sueco da personagem de Clint Eastwood no Gran Torino), mas, por outro lado, boa parte do elenco secundário encontra-se desaproveitado e preso às instruções do argumento restringido e retalhado em flashbacks chorosos que querem proclamar esta obra como o Morangos Silvestres desta geração.

E depois falha redondamente naquele final, com um moralismo obsoleto (“aproveita a vida, estúpido!”) e de puxar à lágrima que está longe de compensar a inanidade fílmica com que é construída e que lhe dá um certo risco em se querer fazer um remake pelos estúdios americanos. Já vimos este filme e bem contado. E a nomeação ao Óscar de caraterização só mostra que, mais uma vez, a Academia não sabia o que andava a fazer este ano.

O melhor: Rolf Lassgård e o humor negro.

O pior: O pouco fulgor da realização e a permanente sensação de que já vimos este filme melhor contado.

Duarte Mata