Terça-feira, 16 Abril

«Seoul Station» por Jorge Pereira

 

Um olhar desatento podia nos levar a pensar que os zombies são o alvo preferido do realizador Yeon Sang-ho, que depois de lançar Train To Busan, um conto sobre uma epidemia de mortos-vivos num comboio, apresenta Seoul Station, uma história onde os mortos-vivos começam a fazer vítimas no terminal ferroviário do título (onde se pode apanhar transporte para Busan).

Esta prequela do grande sucesso em imagem real na verdade é um regresso de Sang-ho às suas origens, ele que assinou os poderosos The King of Pigs (ler crítica) e The Fake, dois trabalhos de animação que, tal como este Seoul Station, apresentam um tom adulto, sombrio, cruel e visceral, fazendo bem o jogo entre o entretenimento escapista e um tom crítico às questões sociais e politicas que fustigam a sociedade sul-coreana – algo que deixaria feliz o pai dos Zombies modernos, George A. Romero.

Se The King of Pigs era uma demonstração desiludida de termos chegado a um ponto da nossa vida em que já não nos reconhecemos e assassinamos o jovem idealista que havia em nós, Seoul Station funciona como uma alegoria a uma sociedade sul-coreana extremamente doente, que despreza os marginalizados, que abusa do poder perante os mais fracos, que esmaga as mulheres com violência e relações abusivas, que usa desenfreadamente o militarismo para calar as multidões. Aqui também existem os cães e porcos da sua primeira longa-metragem.

E embora tudo isto pareça uma declaração continua de perda de fé na humanidade por parte de Sang-ho, na verdade é apenas um frisar de uma “desilusão” que os seus trabalhos anteriores apresentavam, mostrando simultaneamente as doenças, mas também alguns atos de bondade, como se existisse ainda uma luz ao fundo do túnel.

O melhor: A enorme alegoria de um cineasta que mais uma vez mostra, com entretenimento escapista, uma desilusão para com as doenças da sociedade
O pior: Falta às vezes uma maior acutilância e polimento no texto e traço


Jorge Pereira

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