Sexta-feira, 19 Abril

«The High Frontier» por Jorge Pereira

É gélida a palete de cores que o cinematografo Lukasz Zal [o mesmo de IDA] oferece a este Na Granicy (The High Frontier), filme polaco escrito e realizado por Wojciech Kasperski, o qual, um pouco como a paisagem das locações escolhidas, nos transporta para relações familiares bem longe do calor humano que deviam ter.

Estamos numa região coberta por gelo, bem perto da fronteira entre a Polónia e a Ucrânia. Um pai decide levar para uma cabana nas montanhas os seus dois filhos. Parece uma tentativa de aproximação , mas sempre com o beliscar da masculinidade, a fazer lembrar algum do cinema recente de Jeff Nichols e Jeremy Saulnier. Bem vistas as coisas, este é um filme no masculino e quase todas as personagens em cena são homens. As relações entre eles são o grande foco e como estes devem ultrapassar as vicissitudes da vida e crescer, mesmo que as suas decisões não sejam as melhores.

Quando um quarto elemento, ferido e desolado, vai dar com esta família à cabana, numa escolha de planos ao estilo The Thing (A Coisa) de John Carpenter, sabemos que dali não vai sair boa coisa, adensando-se o ambiente de mistério que o próprio espaço claustrofóbico já criava. Eventualmente a fita entra no campo dos filmes de intrusão, nunca perdendo o seu timbre de emancipação juvenil e sabendo usar a paisagem como uma personagem que esmaga todos os outros com o seu imponente caracter de isolamento.

O facto deste filme variar entre o drama familiar, o terror psicológico, e um robosto coming of age, transforma toda a experiência em algo por vezes demasiado contido mas sempre gratificante. Nem que seja pela constante tensão, mistério, e uma impresibilidade rara no género.

O melhor: As várias camadas, a contenção e imprevisibilidade
O Pior: A falta de exploração do sub-enredo


Jorge Pereira

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