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«Logan – The Wolverine» por André Gonçalves

Há dois filmes a habitar e a negociar presença no filme-mutante Logan: o primeiro, e o mais interessante, prende-se com a humanização e abertura do universo X-Menaos temas sociais da América contemporânea (algo que os próprios filmes iniciais de Bryan Singer já tinham tocado, mas que este filme de James Mangold torna ainda mais explícito, mais “negro” – afinal de contas estamos perante um género pós-Nolan); o segundo é um filme de legado da marca “Marvel”, sobre o super-herói Wolverine.

A coabitação não é simples, conforme esperado… Sim, “Logan” é, 2 em 1, um ensaio sobre a mortalidade inspirado no “western” clássico (e claro, Clint Eastwood) por um lado, e uma continuação de uma estética padronizada (e aborrecida) de “filme de super-heróis” no novo século disfarçada pela violência e pela liberdade na linguagem que marcou os últimos anos de Hollywood – herança direta de Deadpool” e até de Mad Max: Fury Road.

O que esta violência concreta não disfarça é o tal sentido de “picar o ponto”, de cumprir uma programação narrativa à qual falha a rotura total dos dois Miller (o de Fury Road e o de Deadpool) com o passado. Poderia argumentar-se que a Logan interessa-lhe o passado, para sublinhar-se a tragédia presente. Mas estranhamente, a gravidade prometida do filme não ecoa tão bem conforme o que era decerto intencionado.

De olhos secos, fica-se então com pena – em primeiro lugar, porque é de facto de salutar a intenção em ser e fazer diferente, e o choque face à execução pedestre revela-se ainda mais frustrante por isso; em segundo lugar, porque Hugh Jackman mostra aqui já ter encorpado de tal modo esta personagem ao fim de meia dúzia de filmes, e já se torna tão difícil dissociá-lo dela, que a queda do ícone merecia outra gravidade; e em terceiro lugar, porque há de facto bons momentos cinematográficos aqui metidos pelo meio, inspirados pela cinefilia honesta de quem os fabricou (nomeadamente o plano final “seco” saído precisamente da memória de “western”, praticamente a salvar o último ato…). Mas lá está: Bryan Singer não precisou de convocar tanta cinefilia para fazer dois bons filmes (que permanecem para mim a fasquia deste universo concreto)…

O melhor: a intenção em ser e fazer diferente do género “Marvel”
O pior: a execução bem aquém das intenções


André Gonçalves