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Febre bélicas, matas remotas e gorilas titânicos em “Kong: A Ilha da Caveira”

Um gorila colossal no topo do Empire State Building, afastando violentamente os caças que desesperadamente o tentam  abater, defendendo-se igualmente e protegendo a sua não correspondida amada. Será que existe imagem tão universalmente identificável no Cinema como o climax de King Kong? Obviamente que não, e não estamos aqui para enganar ninguém. Kong: Skull Island não está aqui para tirar o lugar ao filme de 1933,  mas surge como uma variação comercialmente fiável para um futuro universo partilhado. Pois, não é spoiler. Já se sabe que este símio do tamanho de um arranha-céus vai enfrentar Godzilla numa futura produção.

Mas já que temos que “gramar” com um revisitar à tão icónica figura da sétima arte, porque não aceitar o que de bom tem esta aventura tecnológica? São vários pontos, aliás, a começar pelos momentos em que o realizador Jordan Vogt-Roberts (do filme indie King of Summer) tenta contrariar a linguagem visual básica das grandes produções. Cenas como a da libelinha a mimetizar uns helicópteros saídos da ataque-naplam de Apocalypse Now, fazem-nos de certa forma salivar por mais desses mimos. E o que dizer da troca de olhares entre Samuel L. Jackson e a nossa besta? Mas estes “5 minutos de paraíso” que Vogt-Roberts parece usufruir de vez em quando têm um senão. Tal como uma troca de cromos, há que apostar no já batido … e até invocar um certo estilo à lá Zack Snyder para corresponder aos requisitos estéticos das novas audiências.

Segundo ponto, a conservação do clássico filme de aventuras. Kong: Skull Island, dentro da sua agenda da Hollywood tecnológica, emana um espírito “aventureiro” algo perdido no nosso cinema. Será que tal sensação parece apenas reavivada nas incursões de King Kong (já a subvalorizada versão de 2005 respeitava o subgénero)?

Terceiro ponto, e talvez o mais desafiante desta produção: a febre da Guerra explicitada na rivalidade acidentalmente criada por Samuel L. Jackson, em modo “Hurt Locker“, e o nosso Kong. A fúria dos olhares, quer reais (do ator), quer artificiais (a do símio digital), e a procura de um inimigo como fermento para uma sociedade à beira da ebulição conflitual – “Nós encontramos os inimigos quando os procuramos“. Tudo servido, com certa leveza (ou seja, contado para miúdos), como catarse para a memória bélica do nosso século XX.

O resto é o costume do atual panorama industrial: personagens básicas e construídas consoante as necessidades do guião (mesmo com um John C. Reilly em boa forma) e não o oposto; o climax a dever demasiado aos efeitos visuais e ao espalhafato dos mesmos; e a impressão de assistir a uma reciclagem do guião de Godzilla (2015). Fatores estes que constroem a rotina do espetáculo cinematográfico à lá IMAX.

Ainda assim, é certo que existe muito mais em Kong do que a mera artificialidade. Sim, muito melhor que o esperado, mas não a Oitava Maravilha do Mundo.