Sexta-feira, 29 Março

«Mahana» (O Patriarca) por Jorge Pereira

Depois de andar perdido e de dar vários tiros no pé durante uma década em grandes produções do cinema comercial – como A Conspiração da Aranha, 007 – Morre Noutro Dia, e XXX2: Estado Radical -, e de ter conseguido reconquistar algum prestigio no cinema independente com o seu A Dupla Pele do Diabo (2011), o neozeolandês Lee Tamahori regressa 20 anos depois às origens com este Mahana, contando com a ajuda de Temuera Morrison, protagonista do seu filme (bem recebido pela crítica) A Alma dos Guerreiros (1994).

Neste regresso às histórias do povo Maori no século XX, mais propriamente nos anos 1960, Tamahori segue três gerações de uma família, focando-se sobretudo no relacionamento hierárquico entre os membros dos Mahana e o seu patriarca, o avô (Temuera), um homem frio e calculista, mas bem menos impulsivo do que o Jake “The Muss” Heke que o ator interpretava em A Alma dos Guerreiros. O que Temuera transporta do “The Muss” para este filme é a duresa, o sentido disciplinador e irrascivel da sua personagem no contacto com todos os que estão à sua volta, incluindo os inimigos, aqui na forma de uma outra família Maori, os Poatas.


Os grandes rivais dos Mahana, os Poatas

Baseado na novela de Witi Ihimaera, Mahana é um estudo de como o seu líder/guerreiro encara a perda do poder autocrático que impõe a uma geração mais nova com suficiente “pelo na venta” para o confrontar; isto tudo numa cultura Maori já adulterada por valores ocidentais e cristãos.

Essa rebeldia – apoiada por um dos seus professores, que até cita George Bernard Shaw – vem principalmente de Simeon (Akuhata Keefe, numa interpretação marcante), o neto que questiona não só a autoridade do “seu superior hierárquico” familiar, mas também a sociedade em geral, que claramente ainda descrimina o seu povo (veja-se a cena em tribunal em que ele questiona um juiz para o facto de ninguém falar Maori, prejudicando assim a defesa de eventuais arguidos).

Com calma, paciência e acima de tudo uma visão clarividente e pouco prolixa, Tamahori articula na plenitude todos os elementos da obra original, construindo um filme bem conseguido a nível narrativo e dando-lhe um tom universal, até porque estes confrontos e choques internos e externos (família/sociedade) acontecem em todas as culturas, principalmente por questões ligadas à evolução do pensamento.

Uma nota ainda de destaque para a belíssima cinematografia de Ginny Loane, o trabalho no guarda-roupa de Liz McGregor e a exemplar direção artística de Ross McGarva e Peter Sweeney.

O melhor: O sentido universal do conflito e a forma como Tamahori o expõem sem cair em sensacionalismos
O pior: nada a apontar.


Jorge Pereira

Notícias