Sexta-feira, 19 Abril

«Paranormal Drive» por Jorge Pereira

Paranormal Drive é um filme na linhagem de Christine (1983), mas se a gímnica cinematográfica de John Carpenter funcionava para criar momentos de pura tensão, nesta produção russa de Oleg Assadulin o que interessa são os chamados “cheap thrills”, ao invés de uma verdadeira envolvência do espectador num ambiente macabro. A ligação desta produção russa ao filme do mestre do horror não é apenas na temática. Ambos partilham um tema dos Danny and the Juniors, e talvez esse seja o melhor registo que Assadulin tenha para cativar os fãs do filme dos anos 80.

Andrey e Olya são um casal com problemas no casamento (ele trai-a, ela abusa de comprimidos) que decide fazer uma viagem com a filha pequena para ver se as coisas melhoram, ou então se «racham». Nesse processo, o duo decide comprar um carro barato, o qual está assombrado por uma tragédia ocorrida anos antes, e que o espectador conhece logo a abrir o filme. Na realidade, o carro foi testemunha de um brutal assassinato e carrega em si uma entidade maligna que vai influenciar muito os seus novos proprietários.

Parece claro que Assadulin é um amante esporádico do cinema do terror, pois o seu filme parece mais uma compilação gigantesca dos seus truques mais baratos, mesmo que não haja grande articulação entre eles. Assim, preparem-se para aparições fantasmagóricas, larvas em todo o lado, objetos estranhos a sair da boca das personagens, tentativas de suicídio, personagens bizarras no meio do nada, rios de sangue a escorrer por todo o lado, bonecas “enfeitiçadas”, barreiras no meio da estrada e muitos mais artimanhas usadas no género.

O grande problema, para além da previsibilidade, é que com um trabalho de câmara que deixa muito a desejar e um argumento extremamente interessado em apenas nos pregar sustos atrás de sustos sem criar as bases para isso, como termos empatia pelas vítimas, por exemplo, Paranormal Drive revela-se uma nulidade em tensão e mistério. E embora por vezes o realizador pareça querer entrar no drama psicológico, a verdade é que esse desejo é sugado por eventos atrás de eventos enfiados por algum argumentista que tomou Red Bull a mais.

No final, o filme afunda-se ainda mais quando cai numa reviravolta à Haute Tension – Alta Tensão (2003), que ali aparece quase de páraquedas.

O melhor: O trabalho dos atores (nada de especial, mas eficaz)
O pior: É uma coletânea de sustos previsíveis que a certo ponto se torna enfadonha pela falta de empatia com as personagens

Jorge Pereira 

Notícias