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«Logan – The Wolverine» por Duarte Mata

 

E se este ano Trainspotting teve um regresso nostálgico, o último capítulo da trilogia de Logan não poderia ser mais antagónico e apenas focado em si, menosprezando completamente o tom previsível, juvenil e aligeirado que havia caracterizado as anteriores incursões da personagem de Wolverine (Hugh Jackman) na saga X-Men. O resultado? O filme mais corajoso em torno de uma personagem da Marvel até agora.

É o ano de 2024 e a população mutante está bastante reduzida. A Logan/Wolverine o único amigo que resta é o seu tutor, Professor Xavier, que sofre de uma doença neuro degenerativa que não lhe deixa em plena posse das suas capacidades extraordinárias. Bêbado e depressivo, ganha a vida como chaffeur para poder pagar os medicamentos ao Professor, ao mesmo tempo que planeia o seu suicídio. Até encontrar uma criança mexicana com os mesmos poderes que os seus, podendo ser (ou não) a sua filha. Segue-se então um intenso jogo de gato-e-rato na tentativa de levar a criança à comunidade de onde foi roubada, ao mesmo tempo que membros sádicos de uma empresa farmacêutica a perseguem para finalidade experimentais.

Os heróis estão cansados. Velhos e gastos tentam, a custo, sobreviver economicamente num mundo que já não conseguem mais mudar. O filme de James Mangold lida com temas tão adultos como a paternalidade, os limites da engenharia genética, o recente conflito social entre os EUA-México e, finalmente, a morte como o fim de tudo. O realizador e ator continuam o trilho de violência que o Deadpool [1] havia aberto e levam-na a um nível ainda mais gráfico e sério. A classificação que recebeu é de um R pesadíssimo que torna o filme definitivamente não aconselhável para crianças. E é isso, associado à maturidade com que fala dos temas a que se propõe, que impressiona, misturando found footage com terror, drama familiar com road movie, western com super-heróis, tudo no mesmo filme. Nem falta o uso de excertos de Shane e, de facto, a intriga acabará por lembrar bem a do clássico George Stevens, mas como se fosse filmado por Sam Peckinpah.

Mesmo que Mangold não seja o mais elucidado dos cineastas, a visão que pretende trazer é de algo mais adulto e raro no sistema. Nem Snyder, nem Vaughn fizeram ainda um filme assim, com um tratamento tão cru das personagens e tão ausente de esperanças. E os créditos correm ao som do intimidante The Man Comes Around de Johnny Cash. Não haverá nenhuma cena depois deles. Wolverine, felizmente, acaba mesmo aqui.

O melhor: O gesto corajoso em usar uma personagem da Marvel já muito infantilizada num filme mais adulto, sem ligeirezas no tratamento da violência.
O pior: Mangold continua a ter um estilo muito formatado e de estúdio no que toca à encenação.

Duarte Mata