Sexta-feira, 19 Abril

«Tiger Girl» (A Bully) por Roni Nunes

Adaptando aquelas anedotas que circulam no Facebook à análise do germânico “Tiger Girl“, exibido na secção Generations (para o público “teen“) da Berlinale, “VOCÊ ESTÁ VELHO QUANDO…” :

1 A história de duas adolescentes que dão porrada em pessoas com ou sem razão parece-lhe incrivelmente idiota;

2 A técnica (do realizador Jakob Lass, que tem 35 anos, portanto idade “para ter juízo”) de usar uma edição baseada em frames de centésimos, movimentos de câmara à velocidade da luz, fundo desfocado e banda sonora com rap parece-lhe espalhafatosa, pretensiosa, irritante; pior ainda, você “passa pelas brasas” antes do fim, apesar do barulho; 

3 Achar que a sua reação a todo esse aparato assemelha-se de forma incómoda àquilo que os nossos tios diziam quando ouvíamos Metallica no volume máximo (o facto de ainda gostar de metal deve dar alguma esperança ao autor do texto);

4 Pior que tudo isso, você está velho quando não entende porque os adultos resolveram criar fantasias adolescentes (na senda de “American Honey“) em que todos os códigos morais têm de ser inexistentes para que o verdadeiro espírito “libertário” surja desprovido de qualquer ideia, de qualquer sentido a não ser o do gozo masturbatório mais primário;

5 Achar que o facto de não haver moral nem limites não é libertador, antes pelo contrário – apenas uma afirmação de que o hedonismo e o orgasmo individualista se dê às expensas dos outros. Isto torna lícito que a “redenção” de uma das ladies (vivida por Maria Dragus) se dê quando ela aprende com o sua modelo, a “tiger girl” (Ella Rumpf), a espancar e humilhar pessoas que andam na rua “só porque sim” – como se o filme fosse uma versão estendida de “Grand Theft Auto” e os praticantes de bullying ganhassem estatuto de super-heróis. 

Querendo chamar isto “arte”, pode-se buscar uma velha epígrafe do grande Oscar Wilde: “nós podemos perdoar um homem por fazer algo útil, desde que ele não admire o que fez (…). Toda a arte é completamente inútil“. Ah, agora já deu para perceber.

Roni Nunes

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