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«T2 Trainspotting» (Trainspotting 2) por Paulo Portugal

“Nostalgiaé por isso que estamos aqui”, escuta-se a certa altura em T2 Trainspotting, a muito aguardada sequela do filme que marcou uma geração. Mas isso foi há vinte anos atrás. Será que hoje ainda podemos voltar a casa? Dificilmente. Ainda que Danny Boyle contrarie a ideia e revele grande parte da identidade original que afirmou aquele quarteto de escoceses desatinados de sotaque carregado saídos do romance de culto de Irving Welsh. O que mudou então de 1996 para 2016? Muita coisa. Pelo menos os agora quarentões Sickboy, Renton, Spud ou Begbie já perceberam o que significa não “escolher a vida”. Ainda assim, vão tentar uma vez mais. Nada de mal nisso. É como as sequelas.

Nós e todos temos também mais 20 anos. Ou então temos a tal nova geração do Facebook, Twitter e Instagram que, se calhar, não se entusiasmou por aí alem com o Lust for Life, do Iggy Pop. A nova realidade de Mark Renton (Ewan McGregor) passou pela tentativa de vida nova em Amesterdão, ao passo que o psicótico Begbie (Robert Carlysle) tem observado a vida através de uma cela ao cumprir uma pena de 20 anos por assassínio. Já Simon ou Sickboy (Jonny Lee Miller) continua ativo, com planos para abrir um bordel com a namorada búlgara Veronica (Anjela Nedyalkova) e ainda o heroinómano Spud (Ewen Bremner) a chegar ao fim da linha e a preparar-se para um check out definitivo. Mas vai conservando a memória coletiva em pergaminhos. Lá está, o quarteto lá vai fazendo pela vida, de acordo com o novo guião de John Hodge inspirado no romance Porno, de Welsh, de 2002, e as enésimas tentativas de dar credibilidade a uma história bem como a complexa reunião do grupo. Boyle não perdeu o nervo e sabe que T2 é sobretudo um filme para quem viveu intensamente o primeiro.

Sim, é com saudosismo que partimos para T2, se bem que seja conveniente fazer uma revisão da matéria dada, já que foi há muito tempo que ocorreu aquele início fulgurante de Trainspotting, em 1996, com ao tema de Iggy Pop. Renton, numa romagem de saudade ao seu quarto decorado com papel de parede de comboios ainda se atreve a colocar o disco. Mas sabe que tocar nesse passado é recordar também aquela máxima “escolhe o melhor orgasmo que tiveste e multiplica-o por mil e ainda ficas muito longe” para descrever o efeito da heroína misturada no sangue.

Lá está, este é bem menos um filme para a geração das redes sociais, que em vez de escolher a  vida, opta pelo Facebook, pelo Twitter e pelo Instagram, do que para os cotas quarentões. Mas é também o sobressalto de perceber que querias e deverias estar lá, só que já muita água passou debaixo das pontes, como se diz, e o tempo não volta para trás. Ou melhor volta, mas se calhar precisas de usar o Viagra.

Paulo Portugal