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Split: a personalidade não é um dom, é uma maldição

Depois do sucesso contido de A Visita [1], era com tamanha expetativa que se aguardava este retorno de M. Night Shyamalan à sua zona de conforto – o thriller convencional – sem com isto insinuar que o género adquire banalidade nas suas mãos. 
 
Fragmentado é o típico filme que o realizador poderia ter feitos anos atrás, na altura em que banhava dos “raios de sol” transmitidos pelo frenesim de O Sexto Sentido e do ameno sucesso de O Protegido. É um projeto limpo, longe das “invenções” que condenariam o autor aos olhos do público e da crítica mais generalizada. Porém, foram essas transcendências, pelo qual vislumbramos a melhor das facetas de Shyamalan, o conhecimento dos códigos do thriller de estúdio e a vontade de desmontá-los para depois reconstruí-los de forma desafiante. Nesse ponto, salientamos a parábola de A Vila (hoje visto como a sua “obra-prima“) e o “condenávelA Senhora da Água, a análise corporal da fábula que resultou num dos seus filmes mais criticados (mas dos mais resistentes em questões de revisionismos temporais). 
 
Mas em Fragmentado, o que evidenciamos é uma jogada segura, onde a ousadia é apenas uma “provocação” míope. A intriga de um psicopata de 23 personalidades, tendo como base uma história verídica de Billy Milligan, daria facilmente numa obra complexa e formidavelmente agressiva. As primeiras notícias em relação a este projecto apontavam para Leonardo DiCaprio como um eventual protagonista, um ator de método Strasberg que facilmente direcionaria a obra para campos psicologicamente, como também, fisicamente improváveis. A alternativa encontrada foi James McAvoy, que nunca encontra o “norte” nesta multifacetada tendência ao improviso, ou a personificação automática, falhando redondamente na atribuída credibilidade na(s) sua(s) personagem(ns). 
 
É um rapto que nos transporta directamente para os confins do “exercício de cerco”, para depois incendiar-se como uma catarse de contornos sobrenaturais aos limites da mente humana, da mesma maneira que Scarlett Johansson foi vítima em Lucy [2], de Luc Besson. Mas Shyamalan faz desta sobrenaturalidade, um equinócio de dois teores, uma sugestão a ser abordada com o maior dos cepticismo por parte do espectador. Um banalizado jogo de gato e rato que serve como prosseguimento neste pesadelo “freudiano“. Uma “roda furada” apenas sustentada pela constante oposição de Anya Taylor-Joy (The Witch) e pelos toques “shyamalanos” (poderemos chamar assim) que nos faz respirar ocasionalmente de alívio (a evidenciar mais um “conto” de fé e superação individual). O autor encontra-se novamente confiante e como tal, esperemos que este medíocre episódio sirva de apelo para um novo universo que aí avizinha-se chegar. 
 
Enquanto A Visita, onde o found footage demonstrou a sua medula óssea, em Fragmentado, “saboreamos” o regresso de um realizador acima da industrialização, porém, cedido a esta para sua própria sobrevivência. Sim, Shyamalan, temos que falar … seriamente … porque o teu futuro não se resume somente a sobreviver.