A primeira longa-metragem de Jonas Rothlaender revela-nos uma história de ciúme e obsessão (contado com o auxilio da imaginação do protagonista) que tem como palco de fundo uma Lisboa filmada sob um olhar meramente turístico. Mas antes de desatarmos a apelidar este “esforço” de “europudim” perdido na tradução, vale a pena salientar a sensibilidade do realizador em procurar a medula desta cidade à beira Tejo. Como diz até certa altura uma das personagem habitantes deste Fado, Lisboa é uma cidade camaleão que se confunde com o estado de espírito da pessoa, enquanto alegres se transforma no recanto mais belo do pedaço, enquanto tristes a cidade veste o seu manto de melancolia e de tristeza derrotada.

Talvez seja a cidade ser tão nossa que nos faz sermos exigentes com o olhar estrangeiro de Rothlaender, mas vejamos, muitos dos realizadores portugueses filmaram Lisboa com os mesmos olhos, contando com Bruno de Almeida e o seu The Lovebirds, até João Pedro Rodrigues e o seu gesto desencantado com Odete, e Marcos Martins e a sua busca numa cidade sem identidade com Alice. O único pecado do jovem realizador é a sua ambição de filmar os lugares comuns de Lisboa e as utilizar a favor de uma história carente em psicologia, mas apta nas insinuações emocionais. Com isso junta-se uma certa miopia e não ir mais longe, e ocultado, o desejado de por fim, integrar a alma de Lisboa, invocando o seu lado camaleônico ao extremo. Chegamos ao ponto de desejar o iminente desastre.

A obsessão, o ciúme, a ameaça de crime passional preenchem a intriga, que nos dá o ar de “faz-de-conta”, de insuflação automática ao serviço de um coprodução. Mas nem isso, Fado, esse sentimento que só os portugueses parecem conhecer, leva o filme ao desastre. Apenas precisávamos mais de paixão no argumento, e menos fixação no cenário.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
fado-por-hugo-gomesCarinho pela nossa melancolia, o derrotismo que origina o fado propriamente dito.