O Cinema é a arte do sensível, e não só do visível” já dizia Jacques Rancière num dos seus ensaios sobre a obra de Béla Tarr. Talvez seja essa a ligação emocional que traz algum sabor nostálgico e agridoce a esta nova obra de Ira Sachs, um realizador que tem merecido a atenção da crítica e cinefilia desde “Love is Strange”.

Enquanto o enredo dessa obra seguia um casal homossexual pronto a oficializar a sua relação de quarenta e poucos anos, em “Homenzinhos”, o intuindo da fraternidade não consanguínea volta a ser destacada, os afetos sob o signo inocente de uma amizade entre duas crianças, cujos progenitores iniciam um confronto de interesses.

É um registo ameno, simplista na sua concepção e na forma como os actores induzem nos espaços. Aqui, os apogeus emocionais e os overactings que o espectador mais mainstream gosta de recordar, é posto de fora. O que conta é um sentimentalismo contido por um elenco que se funde nestas personagens, que tão bem poderiam partilhar a nossa realidade. Ira Sachs prima por esse “keep it simple”, usufrui de uma tendência quase proustiana em relação à juventude, galgando pela tenra carne do elenco jovem, servindo-os de condutor para uma perspectiva de “dois gumes” por entre mundos não combinados. O lado adulto, imperceptível para os nossos protagonistas, e os anos verdes, negligenciados por adultos inseridos em vórtices existenciais e ideológicos.

Por um lado, Sachs vem beber da mesma água dos grandes exemplos do cinema de Linklater, mas ao contrário do registo sensorial de um “Dazed and Confused” (“Juventude Inconsciente”), por exemplo, vem culminado dum verdadeiro conto moral com início no incógnito e com desfecho incerto num futuro ainda por prescrever. Sem mais demoras, saliento que poderemos estar presentes num dos melhores exemplos cinematográficos do ano. Um pequeno grande filme!