Sábado, 20 Abril

«Manchester By the Sea» por Duarte Mata

Estamos a chegar ao mês de janeiro, e é quando na mente da população em geral, não grande habituée das salas de cinema, passa aquele pensamento comum “Quem é que serão os nomeados aos Óscares deste ano?”Manchester By the Sea chega às salas portuguesas já com uma reputação notável por figurar nos tops de filmes do ano de várias publicações americanas que, melhor ou pior, funcionam como bolas de cristal do resultado final da prestigiada cerimónia de fevereiro. É bem provável que seja um dos seus favoritos. Porque é tão chatinho…

Chateia o uso constante da teleobjetiva, chateia a reciclagem dos mesmos três planos, previsíveis no desenrolar da cena, chateia o trabalho preguiçoso e pouco imaginativo da luz, chateia a irrelevância na forma como se filma o espaço, chateia o uso pedante de música clássica (nunca o adágio de Albinoni pareceu tão metido a martelo), chateia toda a aura de telefilme que o filme transborda. Onde há mise-en-scène? Não há… os atores ficam apenas quietos a debitar as falas de um argumento pastelão que Kenneth Lonergan nos tem vindo a habituar (foi ele um dos autores do Scorsese mais frustrante até hoje, Gangs de Nova Iorque), neste enredo onde um homem que assassinou involuntariamente os filhos tenta, a custo, aproximar-se do sobrinho aquando da morte do pai deste.

Em poucas palavras, é de um academismo tão sisudo, de um aspeto tão televisivo com propensões pseudo-melodramáticas e com aquela arrogância de se estar a falar de um tema sério de forma manipulada e digestível por uma grande audiência que só os prémios que referimos no primeiro parágrafo e futilidades afins hão-de ficar a salivar, quais cães Pavlovianos, para o ter nomeado. Mesmo Casey Affleck já o vimos em melhores dias (quem o viu em O Assassínio de Jesse James pelo cobarde Robert Ford, não o esquece mais), não fazendo da sua personagem algo seu, mas antes uma encarnação bastante estereotipada do recluso antissocial. Falta a impunidade daquela presença física que cineastas do passado já souberam capturar. Ou que dizer de Michelle Williams, chorando baba e ranho por amor?

Talvez o único aspeto que torne o filme suportável seja o humor negro, presente em momentos onde não o esperaríamos (o plano em que os paramédicos tentam colocar a maca com Williams na ambulância e esta não entra, é apenas um dos vários exemplos). De resto, é lastimável que seja levado ao colo pela crítica norte-americana, a mesma que, este ano, não quis usar a sua influência para dar a atenção devida a um dos mais impressionantes e sinceros documentos sobre a perda e a culpa feitos nos últimos anos (não, não é gratuita nem despropositada a ponte que estabelecemos, já que os temas são comuns), One More Time With Feeling.

O melhor: O humor negro.

O pior: A propensão pseudo-melodramática e a falta de cinema.

Duarte Mata

Notícias