Confortavelmente sentamos na cadeira para visualizar mais um filme de animação. No nosso interior, esperemos que seja o último do ano, visto que 2016 suou ter sido um ano bem animado, no bom como no mau sentido da palavra. Assim, a sessão começa, entra o logo – Ilumination – com os Minions, esses “bonequinhos marketing a fazer das suas. Deste lado, o pior se espera, visto que foi a Ilumination que produziu A Vida Secreta dos Nossos Bichos, um ode à violência sem sentido e uma violação à premissa prometida que revelou-se num autêntico êxito de bilheteira (Why?). Do outro lado da sala, ouve-se um “shhhhiiiiiiuuuu”, o filme vai realmente começar.

As portas do Grand Theatre de “nenhures” abrem, um sítio que o espectador mais atento irá aceitá-lo como um anexo de Zootropólis. Sim, mais um filme de animais antropomorfos! Começa a narração, a voz-off, o qual identificamos como Matthew McConaughey a fazer de tudo para disfarçar o seu sotaque sulista. O ator é um Koala, um pequeno peludo que assiste à sua primeira obra teatral, uma espécie de espetáculo da Broadway, onde uma diva em forma de ovelha “grita” pelos seus pulmões, anunciando todo este flashback prefixo num autêntico “mar de rosas”.

Depois da velha cantiga de cumprir sonhos e afins, chegamos à actualidade, o nosso Koala é agora um produtor desta Broadway, mas um falhado produtor. Antes que alguém invoque o filme de Mel Brooks, é sabido que este marsupial tem um truque na manga, a sua chance de sair da “bancarrota”, aquele buraco, pelo qual se meteu após produções desastrosas e fiascos com “F” grande. Essa iluminação é a premissa de toda esta nova jornada animada, um concurso de talentos musicais.

Enquanto que a sua noção de novo projecto nos parece banal e mais que vendido, como animação, um concurso vocal parece de momento afastá-lo do território básico, mas não tão longe. A partir desta disposição são nos apresentados um diverso leque de personagens que sonham ocultamente ter os holofotes apontados em si. Pequenos backgrounds das personagens aqui e ali para nos situar e contribuir para este “world building”, para depois seguirmos a um casting, mais divertido que aqueles episódios de pré-seleção dos eventuais programas que esta animação alude. Mas obviamente, que esta animação é dirigida a um público especifico e bastante abrangente, por isso, deixemos de “concursos” e passemos então à fórmula.

É previsível que após a aplicação da Lei de Murphy, um momento de humilhação algures e voilá, esquecemos as diferenças e todos os anteriores concorrentes se reúnem em prol de um objectivo comum. O final é essa façanha concretizada, com mais resoluções moralistas por metro quadrado que todas as produções de animação deste ano. Mas é uma “viagem” que compensa? Posso levar os meus filhos? Ao menos, diverte? Pergunta o leitor e muito bem.

Sabendo que este tipo de animações industriais tem um propósito principal – money – através da conquista dos nossos “pequenotes”. Mas tendo em conta o lote que tivemos este ano, desde o banalissímo Finding Dory, passando pelo desperdiçado Zootopia, até ao emocionante Kubo, e claro, o engodo chamado “A Vida Secreta dos Nossos Bichos”, Sing é um produto bem intencionado, que não os envergonha e com uma selecção musical que poderá, de maneiras devidamente doseadas, surpreender os mais cépticos. Não, não é dos piores. Não senhor!