Claro que a imprensa sensacionalista e cor-de-rosa apelidará, assim servindo de publicidade gratuita, esta obra de sequela não assumida de Mr. And Mrs. Smith. Em derivação de tal título estão os inúmeros boatos originados pela separação de um dos casais maravilha de Hollywood, Brad Pitt e Angelina Jolie, assim como os rumores de um possível caso do ator com a atriz Marion Cottilard no set. Verdade ou não, tema, esse não nos cabe julgar perante esta nova longa-metragem de Robert Zemeckis, um dos classicistas movie brats a operar em Hollywood (mesmo seduzido pela tecnologia o qual dispõe para inserir na narrativa, e não o oposto como muito blockbuster que anda por aí).
Mas de uma coisa essa dita imprensa acertou “na mouche”, de Mr. And Mrs. Smith, Aliados tenta sobretudo replicar uma química entre Pitt e Cottilard, da mesma forma que o sucesso dependente de Doug Liman fez com o “ex-casal” em 2005. Proposta falhada, visto que, primeiro, com Brad Pitt tornou-se impossível o estabelecimento de qualquer ligação, até mesmo amorosa veritê (veja-se o caso com Jolie em By the Sea). O reconhecido grande galã do seu tempo, converteu-se num ator fechado a qualquer vínculo, e em consequência disso, limitado pelo cansaço de fugir ao seu verdadeiro role play (o papel de ser o próprio Brad Pitt, de interprete a globalizada socialité). Por sua vez, Marion Cottilard é uma faca de dois gumes, nunca fora devidamente aproveitada no cinema yankee, muito menos em grandes produções como este Aliados. Aliás, a sua personagem polariza um certo “quê”” de Ingrid Bergman em terras de Tio Sam, ou seja, um feminismo “fogo-de-vista”que esconde um real facto, ser o interesse amoroso do nosso “herói”, e neste caso especifico, uma espécie de macguffin que o faz correr num último terço bem apressado.
Como é possível verificar, Aliados é uma fita que apostou sobretudo numa mediatizada dupla, mas que não soube compor, porque devidamente, nenhum dos dois está recíproco de tal demanda emocional. Quanto a referências, Robert Zemeckis apaixonado pelo fôlego algo perdido desse cinema clássico de uma idade de ouro que nunca mais será reproduzida, cita Casablanca em tudo o que pode. O célebre e popularizado “monumento cinematográfico” (possivelmente a obra que destroçou E Tudo o Vento Levou no estatuto de filme mais reconhecido da História do Cinema) é a estrutura óssea deste thriller de espionagem que joga com a duplicidade em estratagemas amorosos.
Até mesmo um final ocorrido num aeroporto sob as juras de despedidas de dois amantes faz invocar-nos essa memória cinéfila, da mesma forma que o piano sob os acordes de A Marselha instala-se como o pico de sentimentalismo indomável, recorrendo a essa fantástica viagem do passado. Por outras palavras, Aliados é um filme de uma dotada herança de referências, porém, sem a imortalização dos mesmos, até porque o espectador mais atento sabe que tudo não passa de uma ficção, e o nosso Casablanca é agora uma memória coletiva bem real, da mesma forma que Paris é, a promessa idealizada de dois dos mais poderosos românticos da Sétima Arte.
Pontuação Geral
Hugo Gomes
Jorge Pereira
allied-aliados-por-hugo-gomesCasablanca assombra Hollywood, qual quer que seja a época ...