Sexta-feira, 19 Abril

«Middle School: The Worst Years of My Life» (Escola: Os Piores Anos da Minha Vida) por Duarte Mata

Ex.mo Diretor de Programação Nacional da TVI,

É com grande prazer que lhe venho informar que encontrei o filme de domingo à tarde da próxima semana. Chama-se Escola: Os Piores Anos da Minha Vida e, após uma cuidadosa análise reflexiva, descobri que se trata da obra ideal para passar no seu canal. A premissa segue um miúdo que anda farto de saltar de escola em escola (subentenda, “ser expulso”) e vai parar a uma nova, cujo diretor tirano tem uma particular apetência para impingir normas exigentes e eliminadoras de qualquer liberdade criativa que os alunos possam ter. Eis senão que o nosso herói, qual vigilante do bem-estar juvenil, decide quebrar cada uma delas através das ideias mais absurdas, entre as quais pintar o cabelo ao já referido déspota ou preencher a escola inteira de post-it’s numa só noite, sem qualquer ajuda.

Mas, porque é que o deverei passar no meu canal?”, perguntar-me-á você indignado. Ora, meu caro, porque, tal como tanto do bom cinema que a sua empresa gosta de passar, é enervante até à medula. Escute: falamos de um protagonista que apela à rebelião e à recusa da submissão de autoridade, quando, ironicamente, o filme em que se insere é o objeto mais conformado com as normas de estúdio que vimos nos últimos tempos. Passo a enumerar: um argumento enfadonhamente previsível; personagens tão planas como as folhas do caderno onde a principal desenha (porque, creio que já percebeu, falamos de uma criança rebelde que se marimba para a escola e só quer desenhar, algo que até é visto com boa luz!); os momentos mais emotivos são de um embaraço tão grande, com o grande planinho na cara dos atores a puxarem pela lágrima ao som de uma música bem piegas; tudo filmado na horizontal, com uma realização, montagem e fotografia preguiçosas; e uma banda sonora minada apenas dos êxitos que se ouvem agora no ginásio. Como se não bastasse, está ainda inserido na nova moda dos teen films de Hollywood em que alguém muito importante tem cancro, julgando que isso torna o filme mais sério ou destacável.

Mas, tem piada?”, quererá você saber, impaciente. Se se trata de uma criança que aprecia o som gourmet de puns e pessoas cobertas com, usando o termo mais prosaico, cocó, então sim.

Por isto e por mais, creio que obedece aos requisitos do vosso canal. Só faltam os animais falantes, mas, creio que pode perdoar essa séria lacuna.

Sem mais demoras, agradeço toda a atenção dispensada e espero não lhe escrever tão cedo,

Duarte Mata

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