Arrancando sob acordes de Max Ritcher e o seu On the Nature of Daylight, Arrival exibe a pior faceta de Denis Villeneuve, a ausência de personalidade. Depois de um grupo de obras que tem-se destacado pelas diferentes virtudes, tons e estilos, tendo como ponto alto o ainda fresco “Sicário“, Villeneuve começa por fazer “maliquices“, ou seja “caiu” na ideia, na possibilidade alguma de ser Terrence Malick. Se Malick já existe um, e mesmo assim, essa unidade chega-nos a irritar perante um estilo tão caoticamente ambicioso, quanto mais as imitações. Enfim, com filmagens de natureza, crianças e um coming-to-age em modo flash forward, tudo pontuado com a narração “filosófica” de Amy Adams, este é o nosso “primeiro encontro“. Queremos sair, até porque este não foi o filme que nos prometeram, aquele dos trailers e das boas críticas vindas directamente de Veneza que nos falavam duma continuação intra-espécies de Sicário. Não, ao invés disso temos uma insuportavelmente e pretensiosa esquizofrenia.

Mas esperem, existe uma esperança ao fundo do túnel, é que depois de terminada as “maliquices“, segue assim, a premissa, as invasões alienígenas e um Mundo em pleno estado de alerta perante estes “visitantes from outter space“. A nossa Amy Adams é um linguista prestigiada (considera o português numa língua romântica e artística), que é abordada pelo Exército Norte-Americano para servir de ponte diplomática com estes “visitantes“, que cujo grande obstáculo é a discrepante divergências entre as duas línguas e dicções. A nossa protagonista avança então com um elaborado plano para conhecer radicalmente o alfabeto destes, e vice-versa.

Em Arrival (não confundir com o filme protagonizado por Charlie Sheen), existe ecos desse Sicário – a força da protagonista, a mulher que quebra a fronteira e relaciona com um mundo inimaginável. A fórmula está aqui representada, só fica a faltar as particularidades desta nova aventura de Villeneuve. Enquanto uns, pasmaceiam perante o ritmo calmo e astutamente manipulado por Arrival, outros questionarão o próprio argumento que se assume “inteligente“. Há dois anos consecutivos que levamos com filmes que tentam contrair esse mesmo estatuto, o de “muito inteligente para as audiências, e ao mesmo tempo entretenimentos de qualidade“. Refiro a Interstellar e The Martian, duas obras que beneficiaram das ligações publicitárias da NASA, porém, este Arrival não possui o mesmo tratamento, mas a sensação é exactamente replicada.

Serão poucos que vão constatar as inverosimilhanças do argumento, principalmente no “motivo criado” para colocar a heroína na dita acção e assim avançar-se na intriga, da mesma forma que nos tremendos Deus Ex Machina. Soluções de última hora, que não são mais que meros “tapa-buracos” com graves aspirações a um determinado filme de Robert Zemeckis, sim, esse mesmo, O Contato. Se já Interstellar, de Christopher Nolan, ia buscar essa fonte, em Arrival a inspiração é mais que evidente, e o filme não consegue contornar isso, mesmo pretendendo seguir direcções menos identificáveis. Ah … já me ia esquecendo, sabem que mais? Eis mais um bajulador produto para os mercados chineses.

O que nos resta? Bem, este “lost in translation” tem a maior ambição de transformar-se numa “pescadinha com rabo na boca“, até porque pensávamos que as “maliquices” tinham terminado no prelúdio. Pensávamos que sim … mas não é que Villeneuve recorda-se desse mesmo cosplay! E assim ficamos com um filme tecnicamente irrepreensível (nota-se a repescagem do compositor de Sicário, Jóhann Jóhannsson) , com desempenhos agradáveis dos seus actores e uma tendência de se perder gradualmente do seu carris. Esta é a provável grande desilusão do ano, a prova de que Denis Villeneuve está no “caminho certo” para virar tarefeiro em terras de Hollywood.