Sexta-feira, 26 Abril

«Manoel de Oliveira: 50 Anos de Carreira» por Paulo Portugal

Apesar de se tratar apenas de um programa de televisão, realizado por José Nascimento e coordenado por Augusto M. Seabra, este documento de aproximadamente 50 minutos concebido para celebrar os 50 anos de “Douro, Faina Fluvial”, adquiriu um tremendo valor histórico. Isto numa altura em que Oliveira ultrapassara já os 70 anos de idade, mas quando ainda lhe faltava cruzar a sua época de maior fertilidade criativa.

É um Manoel de Oliveira bem-disposto que explica a sua conceção de cinema, fora daquela “visão formatada” da televisão e de um certo cinema, assumindo a sua proximidade com a representação teatral, o respeito pelo texto, pelo tempo. De resto, dirá mesmo no final “o cinema não existe; só existe o teatro!” É claro que nesta altura “Amor de Perdição” já fora pateado em Portugal, e celebrado lá fora, e que “Francisca”, acabado de estrear, recebera então um inesperado sucesso do público.

Contudo, o mais interessante neste magazine de cinema ”exibido em horário nobre, às 20h30, na RTP”, conforme recordou Augusto Seabra, presente na apresentação do filme, juntamente com José Nascimento, é podermos também registar os depoimentos de pessoas do cinema, como João Bénard da Costa, diretor da Cinemateca, mas também ator em alguns filmes de Oliveira, bem como da escritora Agustina Beça Luís, a atriz Lia Gama ou ainda o diretor de fotografia Manuel Costa e Silva ou até o produtor António Lopes Ribeiro.

Curiosamente, haveria de recordar o crítico Augusto Seabra, Oliveira haveria se lhe confessar anos depois que o seu filme “Visita ou Memórias e Confissões”, rodado nesse mesmo ano, mas exibido apenas após a sua morte, conforme desejo do realizador, havia sido inspirado por este documentário que fora parcialmente rodado na sua casa do Porto, entretanto com a venda já assegurada. Razão pela qual Seabra referiu que “apesar deste ser um programa de televisão e o outro ser um grande filme, seria interessante vê-los os dois em conjunto”. Na verdade, não deixa de ser curioso como essa proximidade histórica e geográfica com essa casa.

Paulo Portugal

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