Vamos ser claros, Wang Bing é daqueles documentaristas com iniciativa, em constante busca por temas transgressivos e, alguns deles, tabus de uma China em plena crise identitária e moral. Sim, ele é incansável no seu trabalho de terreno, nas horas de filmagem, na abrangência do seu olhar que neste caso é a lente da sua câmara, tão operacional como ele.

Porém, falta-lhe a objetividade, sobretudo no campo da edição. Existe nele uma possessão de material realmente forte, o que o impossibilita descartar algum do seu tempo de filmagem em prol do produto final. Em consequência, são filmes como estes, de temas fortes, mas sem a força necessária para que o espectador “abrace a causa“. Talvez seja por isso que Wang Bing filma tanto, as suas criações não são centradas, nem devidamente frontais para com que realidade que o próprio encara, são objetos deambulados, etnograficamente ricos como documentos de igual matéria, longe da provocação que precisa para realmente ser ouvido.

O documentarista chinês não faz “épicos de violência social“, faz ensaios cansativos e completamente desarmantes de temas que deveriam ter o seu “quê” de alarme, e neste caso, Ta’ang, este registo do exilo levado a cabo por famílias inteiras burmesas, como escape da guerra civil, parece apenas servir como uma decoração para ferir os mais susceptíveis. São quadros vivos, mas dentro deles, existem pessoas que lidam com a sua desgraça, uma má sorte que para Wang Bing são matéria que compõem o seu mais recente ensaio de “poverty porn“, um embrião dos reality shows dotados de uma certa tendência fetichista.

A envolvência neste mundo em “cacos“, onde as “personagens” tendem em lidar com as suas próprias situações, deixando para trás partes integras das suas vidas em busca de quem os acolhe, algo mediático tendo em conta a crise dos refugiados que nos bombardeia os medias, sendo que Ta’ang revela-nos um caso especifico ignorado por estes mesmos. Uma viagem desesperante sem fim, que o realizador filma com a maior das tranquilidades. Sentimo-nos cúmplices perante este mau trabalho de investigação, onde os testemunhos secam perante o “on” prolongado da câmara, sem qualquer indicio de moderação nem coordenação.

Talvez, Wang Bing não queira manipular esta realidade, e nisso faz ele muito bem, porém, o que adianta mostrar por mostrar, o que adianta captar este novo-realismo que não nos electriza, ao invés disso nos entendia da forma mais emocional possível. Será Wang Bing um voyeurista da desgraça alheia? Pelos vistos sim, nada aqui aponta-nos estarmos cara-a-cara com o documentarista do novo século como fora aclamado desde sempre.