Terça-feira, 23 Abril

«Inferno» por Hugo Gomes

Espero que tenham tomado aquele batido forte rico em nutrientes e que tenham vestido o vosso melhor fato de treino, porque a corrida pelos monumentos e museus vai agora (re)começar. Eis a terceira parte da trilogia de Robert Langdon, a personagem imaginada por Dan Brown nos seus respectivos bestsellers, um homem de muitos talentos cujo melhor é simplesmente “imitar” John McClane no que requer a inserir-se em situações difíceis.

Comparativamente, este terceiro capítulo é narrativamente mais fluido e coerente que o dolorosamente inseguro Código Da Vinci (2006), um polémico êxito que não confirmou a sua qualidade, mas sim o oportunismo de Hollywood por sucessos fáceis. Mas é na comparação que este Inferno ganha aos pontos, porque como produto separado não chega a intitular-se de thriller de requinte, aliás contrai os mesmos defeitos que os seus antecessores, “deixa-se levar demasiado à letra”. Enquanto que a escrita de Dan Brown soa mais um guião que um livro, Ron Howard, o ocasionalmente competente e tarefeiro de Hollywood, raramente consegue incutir cinema nestes episódios, apenas ilustrações de um mundo ao virar da página com bonecos ao invés de personagens.

Com Dante como temática, este Inferno prometia um diabólico mistério pela arte de Florença e os marcos históricos da transição da Idade Média para o Renascimento, assim como a exploração do teor religioso despoletado pelo famoso escritor, esse “interminável fosso de 9 câmaras onde milhões de almas torturadas são julgadas pelos seus pecados”. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu, Inferno, de Dan Brown, contrai os mesmos males que muitas grandes produções de hoje, carece de paciência e o mesmo se pode dizer do espectador, cada vez mais impaciente.

Sem essa solicitude na forma, o resultado é uma hiperactividade na sua própria narrativa, aliás o mistério nunca adensa, não, senhor, o que importa é quebrar todos os enigmas a tempo recorde, salvar a Humanidade de uma iminente destruição e por meio de flashbacks, às três pancadas, atribuir um “background” ao seu leque de personagens. Tom Hanks, apesar da repetência, continua um “estranho” na saga, e até as novas aquisições, como Felicity Hoffman, Omar Sy e  Irrfan Khan, são meramente reduzidas a “checkpoints”. Todavia vale a pena mencionar a presença de Sidse Babett Knudsen, que esteve presente no magnifico conto de fetichismo sexual – The Duke of Burgundy.

Obviamente que este é outro caso de sucesso à la Robert Langdon, escusado dizer que não é a sua qualidade que reflectirá o impacto de uma fervorosa campanha de marketing, mais crente que a própria matéria.

Hugo Gomes

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