Terça-feira, 23 Abril

«Vergine Giurata» (Virgem Prometida) por André Gonçalves

Nas montanhas da Albânia permanece um ritual peculiar, que consiste no seguinte: de modo a evitar um casamento indesejado, é feito um juramento de virgindade, e uma consequente renúncia da feminilidade de uma mulher. Por outras palavras, se uma mulher quer permanecer livre, terá que ser um homem. 

Virgem Prometida“, primeira longa-metragem de Laura Bispuri, explora então esta tradição decadente, ao mesmo tempo que nos contrasta dois mundos: o do passado, cinzento, masculinizado; e o de um presente, onde as personagens predominantes acabam por ser… as mulheres. 

Hana (Alba Rohrwacher, continuando a construir um impressionante currículo depois de títulos como “Eu Sou o Amor” e “A Solidão dos Números Primos“) regressa então das montanhas, onde foi homem, para tentar construir uma identidade própria, livre das amarras sociais que foi vítima – aí reencontra a sua prima (que teve a “ousadia” de fugir da vila) e a filha adolescente desta. 

Se no papel e no trailer temos a impressão que vamos ter motivos de sobra para apreciarmos este retrato sobre a identidade humana e o quão intrinsecamente esta está ligada tanto à noção de género como à sexualidade, na prática é tudo bem mais complexo. Sendo também este um relato sobre uma mulher em busca da sua identidade, parece adequado que sejamos presenteados com um filme também à deriva, hermético e lânguido na sua execução, ainda por cima.

Faltaria, mais que o realismo que apresenta, uma porta de entrada para o espectador empatizar melhor com o percurso desta personagem no meio de tantos silêncios, de tanto enigma. É pena, porque há aqui motivos para ficarmos atentos ao percurso desta nova cineasta.

O melhor: A entrega dos atores   

O pior: A ausência de uma porta de entrada para melhor empatizarmos com a odisseia da personagem. 

André Gonçalves

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