Sexta-feira, 19 Abril

«The Daughter» (A Filha) por Duarte Mata

Sim senhor, a estreia do encenador Simon Stone no grande ecrã é meritória de atenção, e prova de mais um feliz caso onde uma carreira no teatro traz algo de genuíno ao cinema, refletindo-se, essencialmente, na direção dos seus atores, a maioria em desempenhos notáveis (ainda é cedo para se falar em Elia Kazan ou Mike Nichols, mas o tempo é o verdadeiro juiz do cinema…) e num derrotismo teatral que culminará no clímax desta obra.

Em A Filha, um alcoólico regressa à casa do pai, afim de celebrar o segundo casamento deste último. No entanto, quando reencontra o seu melhor amigo e a respetiva família, cedo compreende que há segredos e mentiras numa fachada burguesa que dura há muitos anos e na qual a filha do título terá um principal papel.

Falamos de um filme adulto, que lida com problemas de forma adulta. Paul Schneider no protagonismo possui um papel invejável e, sem maneirismos, consegue a comoção e interesse da audiência, superando mesmo os veteranos Geoffrey Rush e Sam Neill. Poderia ser ele a única razão para se ver esta obra, mas é apenas uma das várias surpresas a que um argumento bem estudado e criado nas influências dos melodramas mais clássicos, dá liberdade.

E, no entanto, que falha? Apesar de toda a sua elegância, A Filha está feito de uma forma um tanto pueril. Com isto não queremos dizer que Stone infantilize a sua obra, mas que se nota uma certa ingenuidade na forma como filma determinados momentos (handheld nas cenas mais dramáticas ou a insistência em trazer para primeiro plano um pato selvagem ferido, o elemento mais metafórico desta obra). O cineasta pode justificar cada um dos seus planos, mas também o espetador, e sem grande esforço. No entanto, a boa notícia é que Stone prova ser um cineasta e não um mero realizador, procurando fomentar um registo de autor (ah, aquelas personagens de costas a serem seguidas por uma steadycam) não hermético. Valerá a pena segui-lo? Por agora, contentemo-nos com a maturidade de um primeiro filme.

O melhor: Direção dos atores que dão a Paul Schneider um papel mais que digno.

O pior: Ingenuidade na realização de certas cenas.

Duarte Mata

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