Sexta-feira, 29 Março

«Goat» por André Gonçalves

Falava-se em fraternidades masculinas a propósito de “Taekwondo“, e não sei se foi decisão de programação consciente, mas ter “Goat” logo de seguida ao filme de Berger e Farina fez todo o sentido. 

Aqui, a fraternidade masculina é literal – falamos das repúblicas compostas por letras gregas tão gozadas (ou não!) nos filmes norte-americanos para adolescentes, onde os jovens são sempre apresentados como não tendo o melhor dos QIs, e onde a luta com os “nerds” é constante. 

Vendido como “o filme de Nick Jonas” (ele está bem aqui e recomenda-se, acrescente-se), “Goat” apresenta logo à cabeça sinais de que, pese a produção tipificada, não é um produto só para adolescentes. O argumento, escrito a meias por David Gordon Green (“George Washington“), o realizador Andrew Neel e Mike Roberts, é pelos vistos baseado na memória real de Brad Land, um adolescente que é assaltado e agredido numa noite, antes de ser vítima de um ritual de iniciação para a fraternidade onde se encontra o seu irmão (Nick Jonas).

O filme tem um ótimo começo ao mostrar sinais de querer ser diferente, de não apresentar o expectável (pós-agressão), passando à frente, cortando na gordura previsível (como se o espectador tivesse ido à casa de banho e tivesse apanhado o filme 5 minutos depois). Assim que o chamado ritual de iniciação às “cabras” é feita, o filme torna-se aí sim, mais previsível e mais explícito acerca dos seus propósitos. É uma “culpa branca” muito particular esta, mas uma que segue um código já bem descrito no passado. Em boa verdade, a obra nunca verdadeiramente descarrila, tem um plano final sem grandes “rodriguinhos” que não trai a sensação geral de desconforto que o filme transmite – e há ainda espaço para um “cameo” potencialmente irreconhecível (mais um) de James Franco, a agarrar o papel como se fosse todo o filme sobre o seu personagem.   

Ainda assim, um filme a ver, sobretudo pela sua mensagem forte em plena época alta de praxes académicas, onde o espectador pode comprovar que não estamos assim tão longe de excessos vindos do outro lado do Atlântico…  

O melhor: a exposição de toda uma cultura que merece ser decomposta

O pior: a previsibilidade e crescente cansaço causado por esta exposição na segunda metade de filme

André Gonçalves

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