Quinta-feira, 28 Março

«Colossal» por Paulo Portugal

O realizador espanhol Nacho Vigalondo não só não parece dar qualquer tipo de limite à sua imaginação, como a instiga mesmo a superar-se. Em Colossal sugere que a personagem de Anne Hathaway tenha um tipo de ligação estranha com uma espécie de Godzilla que aparece nas ruas de Seul. Além de ter de resolver essa eminente catástrofe terá ainda de superar a sua igualmente catastrófica relação pessoal. Nada mal, como premissa…

Segundo rumores não confirmados, Nacho teria recebido esta inspiração quando estava com os copos. Mesmo que não seja verdade (apesar de não termos nada contra), a simples ousadia é, por si só, motivo de curiosidade. Algo que o filme produz em diversos momentos e até numa saborosa mescla de géneros e bastante diversão. O problema mais complicado é resolver todos os buracos que inevitavelmente não tardarão a aparecer.

Anne Hathaway tem aqui a oportunidade de criar uma personagem de ampla paleta interpretativa, de resto muito ajudada pelo funny man Jason Sudeikis, a quem também é pedido que se reinvente numa variante de vilão e dono de um dar onde acontecem demasiadas peripécias. Neste jogo de opostos temos ainda Dan Stevens (o gala de Downton Abbey) como namorado organizadinho de Hathaway. Acrescem ainda os nomes de Tim Blake Nelson e Austin Stowell, amigo e frequentadores desse mesmo bar.

Através de uma espécie de efeito de realidade aumentada, percebemos então que o tal Godzilla a aterrorizar os coreanos responde a certos gestos e ações da personagem de Hathaway. A que se junta então um igualmente gigante robot para um confronto nas ruas de Seul. Já perceberam? Então esses monstros acabarão por ser extensões das personagens principais. É claro que será tudo um pouco mais complicado que apanhar Pokémons.

Depois de colocar naves aliens nos céus, mas nunca desprezar a comédia, em Extraterrestres (2011) e das mais insólitas consequências de encontros online, em Open Windows (2014), aqui já a trabalhar em Hollywood,  Vigalondo não receia o ridículo de ensaiar esta premissa. Por isso mesmo, Colossal é daqueles filmes capazes de ser encarados como um pequeno fenómeno hilariante ou, simplesmente, uma ideia demasiado arrojada para evitar o disparate.


Paulo Portugal

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