Sexta-feira, 29 Março

«Grandma» por André Gonçalves

Grandma” segue a tradição de filme de estrada, criado praticamente pela máquina norte-americana, propagado ao longo das últimas décadas por Sundance. 

A avó do título é Elle, que procura ajudar a sua neta que lhe vem pedir apoio financeiro para pôr fim a uma gravidez não desejada, que deverá ocorrer ao final do dia. Elle não é uma “avozinha” qualquer: Vi, a sua companheira de 38 anos faleceu há pouco mais de um ano, tendo criado a sua filha juntamente com ela. 

De entre as várias temáticas a tocar, há espaço para falar abertamente do aborto em si, de maternidades e de feminismo face ao papel tendencialmente negligente do sexo masculino no que toca a assumir a paternidade. Apercebendo-se provavelmente que não conseguirá ir muito mais a fundo que o melhor que já vimos sobre qualquer uma destas temáticas, o realizador Paul Weitz faz um percurso desengonçado de auto-estrada em menos de 80 minutos para chegar à “moral da história“. Resultado imediato e positivo: o espectador não sente qualquer tédio, e temas como a longa relação de Elle com Vi permanecem sedutores (misteriosos) na sua contenção. Weitz, que também assina aqui o argumento sozinho, está mais próximo da sofisticação de “Era Uma Vez Um Rapaz” que de “American Pie” ou da sequela de “Twilight“. Podia era ter controlado melhor a tendência para colocar as personagens a gritar como meio fácil para gerar conflito ou gargalhada… 

Mas não vale a pena enganar-nos: “Grandma” é um veículo para a veterana Lily Tomlin, que por pouco não esteve nomeada ao Óscar no ano passado (recebeu “apenas” uma nomeação para o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia/Musical). Se tanta gritaria pode parecer algo gratuita, a atriz de 77 anos consegue construir camadas de luto, sarcasmo (acrescido pelo luto?) e generosidade por cima do diálogo mais óbvio, numa das suas melhores composições. Será a sua interpretação a sobreviver aqui à memória coletiva. 

O melhor: Lily Tomlin e o tom desengonçado com o filme expõe a narrativa

O pior: a superficialidade desta narrativa 

André Gonçalves

Notícias