Sexta-feira, 19 Abril

«Barash» por André Gonçalves

Barash” representa mais uma iteração no género “coming out” (saída do armário) aliado à descoberta do primeiro amor.   

Passado em Israel, o filme fala-nos de duas jovens que se cruzam pela primeira vez nos lavatórios da casa de banho do liceu, e que desde então estabelecem uma ligação. Naam Barash é uma jovem de uma família judia conservadora. Inexperiente com o mesmo sexo e confusa dos seus sentimentos, acaba por se apaixonar perdidamente por Dana, com um visual mais “punk rock“. 

Se esta obra inevitavelmente (e inconscientemente?) lembrará o espectador do muito superior “A Vida de Adèle” de Kechiche (onde a protagonista Naam Barash é obviamente a Adèle desta obra), a realizadora e argumentista Michal Vinik tenta aqui acrescentar uma trama extra em menos de metade do tempo do filme de Kechiche. Assim, para além da descoberta do primeiro amor de Naam, há ainda os constantes desaparecimentos da sua irmã, que foge da base sem dar notícias à família. Daí que o título não seja “Naam“, mas sim o nome de família “Barash“.  

Em comum, as duas tramas mostram uma juventude israelita aborrecida que encontra refúgio nas drogas ou no amor (podendo o amor também ser considerado uma droga). Se é certo que nos seus 81 minutos, o espectador não se aborrece tanto como estes adolescentes, que nos entretêm com a sua necessidade de escape e com o consumo de vários tipos de drogas, fica ainda assim a sensação que Vinik poderia ter ido mais longe. Poderia, por exemplo, ter aproveitado ainda mais o espaço geopolítico (fica-se pelos mínimos no conflito judeu-islâmico), poderia ter tentado mais sair do molde mais antigo do cinema “queer“. 

Barash” não deixa de ter o seu charme e irreverência momentâneos, acompanha-se com um sorriso na cara, e deixa certamente um ligeiro travo a doce na boca. Mas ao não se distinguir assim tanto de outras ofertas do mesmo género, deixa igualmente uma sensação de oportunidade perdida.    

O melhor: acompanha-se com um sorriso na cara, sem aborrecimentos, e com duas interpretações femininas à altura do desafio 

O pior: não ser uma obra que se distinga das congéneres, num género que é o mais saturado do cinema “queer

André Gonçalves

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