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«AWOL» por André Gonçalves

AWOL – “Absent Without Official Leave” (Ausente sem Licença Oficial de Saída), termo usado pela força militar norte-americana para descrever um soldado ou outro membro das forças que saiu do seu posto sem permissão.

A realizadora e co-argumentista Deb Shoval faz a sua transição para a longa-metragem decidindo estender a sua própria curta-metragem homónima de 2010, e colocando nos papéis de protagonistas uma estrela em ascenção (Lola Kirke de “Mistress America [1]“) e recuperando a atriz que tinha interpretado o interesse romântico na curta-metragem original (Breeda Wool, a fazer lembrar assustadoramente A.J. Cook).

O pecado de muitas destas passagens curta para longa é, na fase mais alongada, repararmos que não havia muito mais para contar. Tal não aparenta ser o problema deste “AWOL“: não tendo visto a curta-metragem de origem, seria difícil imaginar esta história caber em menos de meia hora… 

E o que conta “AWOL“? Bem, o título revela já demasiado (é afinal a passagem para o terceiro ato aqui) – temos aqui uma fuga dos serviços militares de uma rapariga que tem nas suas costas o peso de ser a salvação da sua família. Estamos afinal de contas num cenário que cada vez mais o cinema independente tem explorado: o lado “roulotte” da América (neste caso, na Pensilvânia), a necessidade de enveredar por uma formação militar como plataforma de pagar a universidade, o vício da metadona como escape, a dependência em rendimentos sociais. Para Joey (Kirke), a alternativa a ficar a ser vendedora de gelados e afins é alistar-se, e assim ter o dinheiro para ir à universidade. Há apenas um problema: Rayna, uma típica mãe de “roulotte“, que vive de rendimentos e de biscates, e que está estacionada na vida, presa a um marido camionista. Joey apaixona-se por Rayna, Joey quer fugir com Rayna, Rayna não pode, Joey alista-se, volta para casa nas férias de Natal, pelo meio mete-se com uma personagem secundária caída do céu para ver se passa à frente,  e…  eis que afinal há uma folga. 

Nota-se a intenção inicial de escapar a alguns “clichés“, e de passar da fase de saída do armário para ir mais rápido ao núcleo da relação. Para uma aldeia como a retratada aqui, a homossexualidade de Joey é surpreendentemente mais visível que a política “don’t ask, don’t tell”, o que é refrescante q.b.. Onde “AWOL” fica engatado não é no ponto de partida, não é nas interpretações de Kirke e Wool, é na passagem da exposição inicial ao terceiro ato, e depois a não-resolução final que acaba por ter um efeito contrário ao desejado (i.e., soa a cobardia, quando devia ser visto como ousado). Indo direto ao padrão “Brokeback Mountain“, as duas mulheres têm um “vai, não vai” básico, repetido à exaustão, e quando o clímax, previsto pelo próprio título, se dá, o filme já perdeu muito do gás inicial. E depois há aquela tentativa de final aberto, que dá mais facilmente lugar a um encolher de ombros que a uma salva de palmas.   

O melhor: a tentativa inicial de escapar a “clichés

O pior: A adesão a todo um modelo genérico a partir do segundo ato. 

André Gonçalves